Essa travessia foi realizada entre os dias 12 e 13 de novembro de 2022. Meu amigo Fabrício e eu chegamos na cidade de Muçum no sábado de manhã, conversamos com um taxista que estava na praça próximo a rodoviária onde perguntamos a ele se poderíamos deixar o carro estacionado na rua coberta, ele respondeu que não teria problema, pois era comum as pessoas fazer isso, inclusive nos mostrou outros carros que estavam estacionados ali com o mesmo objetivo nosso.

Agradecemos a informação, e como chegamos cedo na cidade fomos tomar café na Lanchonete do Gheno, onde nos foi servido um pastel frito na hora com um café muito bom. Após o lanche nos dirigimos até a rua coberta, estacionamos o carro e compramos a passagem de ônibus até Guaporé. O valor da passagem foi de R$20,25 centavos (a dica aqui é ligar para a rodoviária antecipadamente, pois os horários dos ônibus variam em feriados).

Pegamos o ônibus pontualmente às 7:50 da manhã, o percurso durou cerca de uma hora. Pedimos ao motorista que nos deixasse na entrada da cidade de Guaporé, próximo à Estação Ferroviária, onde iniciamos a travessia pontualmente às 09:00 am.

Caminhamos pelos trilhos pois as pedras soltas exigem muito dos tornozelos e da sola do pé, é uma caminhada bastante introspectiva pois é necessário prestar atenção nos dormentes afim de não tropeçar.

Marquei pontos de coleta de água e possíveis lugares para tomar banho durante o percurso. É importante atentar para conseguir se programar para as refeições, pois a partir do viaduto 13 não encontramos fontes de água próximas dos trilhos.

Ao atravessarmos o viaduto vazado Mula Preta, percebemos um ponto de atenção aqui, pois em alguns pontos estavam faltando alguns dormentes, nos obrigando a dar um passo mais largo para passarmos por cima do espaço vazio, também tinha alguns dormentes rachados ao meio e alguns soltos, acredito que em breve serão substituídos, pois tinha uma pilha grande de dormentes novos ao lado da ferrovia, mas foi um desafio transpor esse viaduto.

Como estávamos com disposição resolvemos caminhar até atravessar o viaduto Pesseguinho e encontrar um local para acampar, porém acabou ficando tarde e não sobrou muito tempo para procurar um local de acampamento com água próximo, e decidimos por parar no camping Recanto da Ferrovia. Pedimos se podiam nos fornecer água. Enchemos os refis de hidratação e os cantis para fazer a janta, compramos duas cervejas para nos refrescar, pois estava muito quente e também em agradecimento pela água que nos foi cedida.

Seguimos então até o próximo ponto de parada, onde seria o nosso acampamento, totalizando 26 km caminhados. Ali montamos as redes, mas também havia local destinado para barracas, jantamos e em seguida começou a chover, dormimos na expectativa do trem passar, porém isso não ocorreu durante a noite. Levantamos no segundo dia, tomamos café, desmontamos o acampamento, recolhemos nosso lixo e recomeçamos a caminhada.

A ideia inicial era fazer três dias de travessia, mas como a previsão meteorológica era de chuva para o terceiro dia, somado ao fato de não encontrarmos pontos de água suficientes, decidimos por continuar a travessia somente até o término do segundo dia mesmo. Assim seguimos até as 19 horas onde chegamos na estação férrea de Muçum, descansamos um pouco e caminhamos mais 3km até o ponto que estava o carro.

Pegamos o carro e paramos na Dege Lanches, comemos um xis delicioso, muito bem preparado e com ótimo atendimento, fica minha dica de local para refeição, após a janta seguimos viagem para casa.

Vou deixar aqui o meu relato de pontos que considero importantes para quem pretende fazer essa travessia:

Meias para trekking e um calçado bom são fundamentais, mesmo usando eu fiz uma bolha que me incomodou e meu amigo fez onze, isso mesmo, onze bolhas nos dois pés, pesquise antes como tratar das bolhas porque provavelmente você terá bolhas devido ao tipo de terreno.

Se programe com as refeições, assim evita-se de carregar peso extra por causa da água.

Utilize um filtro para água ou Clorin, pois uma dor de barriga pode acabar com seu passeio, eu usei a minha Stonewater.

Em dias de sol, protetor solar é indispensável visto que grande parte do percurso é a céu aberto.

Repelente de mosquitos é importante nos acampamentos, usamos as redes da Guepardo com mosquiteiro, mas até irmos deitar eles incomodaram bastante.

Lanternas são indispensáveis, leve uma de backup pois se ficar sem bateria vai ser difícil atravessar os inúmeros túneis, alguns com até 2km de comprimento.

No período que fizemos a travessia o Trem dos Vales não estava passando e o trem de carga que geralmente passa de noite também não passou, entretanto é bom ficar sempre atento, existem refúgios nos viadutos e túneis para se abrigar caso o trem passe.

Vale planejar bem os objetos que você vai levar, pois cada grama conta após horas de caminhada, minha mochila estava pesando 15kg e foi bem difícil para carregar ela após um tempo caminhando.

Em diversos pontos o sinal de celular é acessível e internet também, porém nos túneis e em outros pontos não pega sinal algum, então eu recomendo que se for fazer sozinho avise alguém e vá comunicando conforme obtenha sinal.

Recolha seu lixo sempre, se você conseguiu carregar a embalagem cheia, carregá-la vazia fica mais fácil ainda!

O camping Paraíso tropical fica embaixo do famoso viaduto 13, ali tem toda a estrutura para camping e refeições, inclusive ele dispõe de traslados até os pontos principais como o viaduto 13, o Mula preta e outros, recomendo muito esse camping pois apesar dessa vez termos acampado ao lado dos trilhos, já acampei lá e o pessoal é muito receptivo!

Texto escrito por: Mayckel Antunes – @fazendotrilhas.