Sobrevivencialistas X Preparadores: Qual a diferença?

Antes de tudo, deixo claro que não há no dicionário a explicação do que significam os dois termos, então a interpretação destes está completamente passível de diferentes entendimentos. Após sugestão de um colega, decidi traduzir o post abaixo e complementá-lo com minhas opiniões a fim de esclarecer um pouco as diferenças entre as duas “classes” do título.

Similaridades primeiro

Entender por que estes dois termos são tão confundidos pode nos fornecer a fundação para o entendimento das diferenças. Os dois, sobrevivencialistas e preparadores, tem uma atitude mental positiva quando se trata de não somente sobreviver a um desastre (natural ou feito pelo homem) mas também superá-lo com facilidade.  Os dois grupos tem o desejo de viver a vida da forma que preferem e não querem depender dos outros quando se trata de eventos imprevistos.

Os preparadores

Os preparadores geralmente podem ser descritos como aqueles que tem interesse em manter certa qualidade de vida e nível de conforto durante e depois de um desastre. Por meio de planejamento avançado e intenso, preparadores estocam suprimentos para a família inteira visando estarem prontos para desastres de curto e longo prazo.

Os estoques tendem a ser bastante expressivos dependendo da seriedade do preparador

Preparadores geralmente visam sobreviver por meio da auto suficiência e produção doméstica, dependendo menos de contribuições externas. Por exemplo, em uma situação de emergência, o preparador que precisasse de papel higiênico acessaria seu estoque de um ano do produto.

Este é o típico quintal de um preparador, muito produtivo!

A maior premissa do preparador é a defesa de seu território. Geralmente os preparadores confiam em um modelo de defesa estilo “fortaleza” e não pretendem sair de sua localidade, visto que seu estoque está centralizado no máximo em dois locais diferentes. Esta é a maior força e também fraqueza dos preparadores.

Os sobrevivencialistas

Sobrevivencialistas geralmente levam a auto suficiência à um novo nível. Isso inclui preparações para viver e se adaptar em qualquer lugar em que estejam. Sobrevivencialistas trabalham para entrar em conformidade com as condições que têm em mãos e visam criar uma forma de viver no ambiente em que estiverem inseridos.

O militarismo é bastante presente na ideologia sobrevivencialista

Os sobrevivencialistas trabalham para aprimorar suas habilidades em extrair comida e água da terra, caçar e rastrear, criar abrigos com o que há no local e se orientar em condições pouco amigáveis. Sobrevivencialistas se concentram no estilo de vida emergencial e minimalista. Por exemplo, um sobrevivencialista que precisasse de papel higiênico saberia qual planta da redondeza poderia servir como um substituto efetivo.

Dentro desta categoria podemos encontrar aqueles que mesclam a defesa da propriedade com a possibilidade de nomadismo. Geralmente os sobrevivencialistas são muito ligados à ideologia armamentista e apesar de basearem-se também em estoques de suprimentos, confiam em suas habilidades para conseguir suprimentos em quaisquer condições possíveis utilizando os meios necessários.

O deslocamento para busca de recursos é algo já planejado para um sobrevivencialista

Aqui infelizmente também entram os “conspiratórios” e “apocalípticos”, que acreditam em teorias duvidosas e profetizam o final do mundo. Também adiciono os “sonhadores”, que acreditam ter capacidade de sobreviver a todas situações e baseiam suas preparações em premissas completamente fantasiosas.

Pontos extras de diferenças entre os dois tipos:

Lembrem-se que aqui estamos generalizando para formar uma impressão geral dos dois tipos. Pode ser que você discorde com algumas condutas ou pensamentos expostos abaixo, porém tais declarações foram feitas baseadas no que se pode observar na maioria de pessoas de cada grupo.

  • Grupos: Preparadores tendem a dar mais importância à comunidades e grupos, sobrevivencialistas são mais individualistas e fechados em seus núcleos familiares;
  • Defesa: Se você conhecer um sobrevivencialista, a primeira coisa que ele irá lhe mostrar é a coleção de armas dele. Sobrevivencialistas são armamentistas de sangue e acreditam em defesas das mais diversas formas (como arcos, balestras e afins), pode-se dizer que são muito focados em defesa e ataque. Preparadores são mais controlados e visam ter recursos de resistência mais equilibrados e foco muito pesado na estratégia por trás do sistema de defesa;
  • Deslocamento: Como já dito, preparadores tendem a ser mais estacionários, sobrevivencialistas podem mesclar a defesa estilo “feudal” com o nomadismo;
  • Discreção: Os preparadores são muito mais discretos e focados em estocagem e planejamento. Não visam expor nada à ninguém. Sobrevivencialistas muitas vezes acabam mostrando seu estilo de vida aos outros visto que possuem uma ideologia muito forte;
  • Pontos fortes: Os sobrevivencialistas são focados na criatividade e desenvolvem-se para lidar com urgências inesperadas. Os preparadores são ótimos estrategistas e possuem grande quantidade de recursos à disposição.
  • Pontos fracos: Sobrevivencialistas confiam no deslocamento e conflitos armados para defesa e obtenção de recursos, o que pode causar ferimentos e baixas. Sua propensão a fantasiar pode levá-lo à situações que o surpreendam negativamente. Os preparadores por serem mais estacionários correm o risco de serem subjulgados por invasores e então perderem todo seu estoque e abrigo, tendo no máximo uma segunda localidade bem menos preparada e que também pode ser subjulgada. Sua falta de habilidades para conquistar novos recursos pode ser fator complicante em caso de perda de recursos ou esgotamento destes.

Conclusão

Em última instância, é difícil de marcar as pessoas em uma das categorias. Preparadores e sobrevivencialistas dividem muitas características, motivações e filosofias em comum. Preparadores e sobrevivencialistas também podem aprender muito uns com os outros já que dividem o mesmo objetivo de se tornarem mais auto suficientes e viverem fora da rede.

Em tempos de desastres naturais quando preparadores e sobrevivencialistas precisarem fazer o que planejaram, o que realmente importa é que ambos procuram causar o menor efeito negativo possível neles mesmos e em suas famílias. As habilidades de cada grupo são suficientes para contribuir para o bem estar daqueles que estão ao seu redor.

De certa forma, os dois tipos seriam muito funcionais se trabalhassem em conjunto visto que tendem a completar suas fraquezas e enfatizar seus pontos fortes.

Conteúdo traduzido do blog Bushcraft Prepping e complementado por Julio Lobo.

20 Comentários

  • mozart oliveira

    Uma boa ideia é a última que o autor do artigo expos : Unir preparadores e sobrevivencialistas , o desafio é grande pois em ambos os lados aparecerão pessoas ” egoístas ” que irão crescer o olho no estoque do outro e isso é perfeitamente pensável diante da complexidade e maldade que aparece no interior do Homem , sabemos que a união faz a força ( e açucar tbm , rsrs ) , basta ver a colaboracao que temos entre vizinhos , troca de temperos , ganhamos pote com pao caseiro , bolo , biscoitos e etc; Combinei com um amigo que em caso de ” Invasão Zumbi ou calamidade publica ( guerra ) iremos unir forças uma família apoiando a outra dentro da filosofia do “homem cinza ” – Grey Man – , quanto menos “barulho” alarde fizermos melhor , trocaremos suprimentos , munição , compartilhamento de horta/ colheita .
    Estou pensando em tirar a licença de caçador/atirador , deve ser bom saber caçar , isso em qualquer época.
    abs

  • Discordo quando diz que ” Sobrevivencialistas confiam no deslocamento e conflitos armados para defesa e obtenção de recursos…” Esta definição de “conflito armado para obtenção de recursos” é ideologia de outros grupos que se encaixam nos perfis de milícia e banditismo. Um dos pilares dos preparadores é a defesa de seu abrigo, através do conflito armado, aqui no BR, não é difundido devido a lei do desarmamento, mas lá fora é sabido e divulgado que parte do treinamento é uso de armas e estoque de armas e munições. Só esclarecendo que a melhor forme de sobreviver, é passar despercebido, evitar o combate ao máximo, e isto é claro e bem difundido no sobrevivencialismo.

  • Gostaria de parabenizar pelo site, adoro seus textos, são muito esclarecedor, ainda mais para mim uma iniciante no sobrevivencialismo, apesar de eu não ter um treinamento para defesa, pretendo desenvolver um, visto que é de suma importância. Creio que o melhor é ser junção dos pontos positivos dos dois.

  • Eu acho que o melhor é o equilíbrio entre as duas coisas, pegar as boas características de um e de outro. No caso, pra quem tem menos recursos e mais tempo, acho q sobrevivencialismo compensa mais, se a pessoa te mais recursos e menos tempo, o bom seria prepper, porém o ideal é ter habilidades como o sobrevivencialista desenvolve e recursos acumulados como o prepper, mas nunca ser nem um estremo nem outro.

  • Na verdade acho que o verdadeiro erro eh tentar rotular quem tem mais vantagem ou quem tem menos, ou quem eh aquilo ou quem eh isso. Gente somos pessoas que nada mais nada menos querem se proteger e se precaver de situações de risco seja ela qual for, seja uma situação que nos afete ou que afete nossas famílias. Cada um se prepara do jeito que acha melhor e mais conveniente. Buscamos informações que nos ajudem melhorar nossas táticas de sobrevivência e existência. E assim unidos trocamos ideias e enriquecemos nosso conhecimento. Isso não eh futebol para ter torcida e nem politica para ter militantes e se erguer bandeiras. Estamos falando de ser preparados, de ter uma vantagem ou alguma chance em uma situação em que tudo esta perdido. Quem tem grana para fazer meses e meses de estoque de alimentos, comprar os melhores equipamentos de sobrevivência, ter vários locais de base para preparação e tudo que o dinheiro consegue…ótimo! Agora quem eh assalariado, mora de aluguel, pessoas que antes de pensar em como vão armazenar comida para meses tem de pensar antes em como vão fazer a compra do mês e manter suas necessidades básicas, e que seu melhor kit sera apenas uma mochila com alguns itens comprados com muito esforço, não são sobreviventes? Eu me encaixo no segundo caso, e sim me considero um sobrevivencialista, me considero um preparador. Pq eu uso os recursos que eu tenho para ter uma chance por menor que ela seja. Se a melhor arma que eu puder ter for uma faca, uma pedra, não importa eh com isso que vou me defender, mas ninguém vai aterrorizar a mim e minha família tão fácil. Pra mim ser sobrevivente eh isso! Trabalhar com o que tem melhor. Antes de fazer preparações, comecem por preparar a consciência.

    Fernando
    http://sobreviventebrasil.blogspot.com.br/
    https://www.youtube.com/channel/UCqIybq9X4xs3taXQB6nik3Q (Canal Sobrevivente Urbano).

  • Diego Martins

    Alex Supertramp, apesar de apresentar características de um (péssimo) preparador é predominantemente sobrevivencialista.
    Mesmo assim não conhecia a agricultura ou pesca, ou, na verdade, confiou demais nas suas ideias, não estudou as chances negativas.

  • boa materia lobo mais volta a tela preta de antes braco fico muito forte tipo olhar pra neve

  • Mário Cardoso

    bom conteúdo Julio. texto bem fácil de ser absorvido/entendido. acho q todo homem (ser humano), deve ter algum conhecimento sobre o improviso, e como se defender. afinal, estamos vivendo momentos difíceis e que infelizmente, tendem a piorar. grande abraço.

    CB. CARDOSO

  • seja um pouco dos dois e sempre esteja preparado para improvisar, assim suas chances e de sua família aumentam.

  • Mais um excelente artigo do nosso amigo Julio Lobo. Taí um assunto inesgotável, polêmico e que dificilmente se chega a um consenso. Então, sendo assim, vou puxar a sardinha para o meu lado, pois me considero muito mais um preparador do que um sobrevivencialista. Concordo com a maioria dos argumentos postados pelo Julio, com uma ressalva, somente, com a devida venia – quando trata que são os sobrevivencialistas que estão mais focados no armamentismo, quando, na minha opinião, ocorre exatamente o contrário. Sobrevivencialistas focam em armas brancas, ou seja, facas, facões, balestras, arcos, estilingues, canivetes etc. Por isso mesmo que vemos tantos sobrevivencialistas aficionados pela cutelaria. Já o preparador não tem tempo e muitas vezes paciência para aprender a a nobre arte da improvisação e construção de armas. O preparador costuma comprar tudo pronto; logo ele procura a faca de maior e melhor qualidade já produzida no mundo – ele não busca aprender como se faz e sim estudar as características técnicas dos melhores equipamentos para então se decidir o que vai comprar. Os sobrevivencialistas, por seu lado, não adotam o estilo militar, ao contrário, se aproximam mais da realidade dos índios e naturalistas do que realmente das forças armadas e de segurança. Já preparadores são obcecados por tudo que diz respeito a arte da guerra, fardas e uniformes táticos e, principalmente, armas de fogo. Em suma, quanto a questão da segurança, a grande falha no pensamento sobrevivencialista, ao meu ver, é imaginar que somente com uma faca na mão e boas ideias na cabeça seus problemas serão resolvidos em um evento crítico. Já o preparador tem um estoque de armas e munições para ajudar a pensar sobre o assunto.

    • Olha da parte da realidade dos índios eu descordo…quem esta mais perto desta realidade são praticantes de bushcraft que é uma coisa bem mais restrita. Sobrevivencialistas são tão fãs de artigos militares quanto qualquer macho alfa que se preze. kkk… vlw …abraço!

  • O texto é bem interessante porem por não saber em que lado me posicionar prefiro não opinar.

    Só posso dizer que seria interessante conhecer bem os pontos positivos, trabalhar os pontos negativos de ambos e usa-los combinados de forma que vc se adapte a cada situação que se apresentar e possa ser mais versátil!

  • Com esta explicação… eu me sentia um preparado e agora descobri que sou um sobrevivencialista. Putz, crise de identidade bateu. 😉
    ÓTIMO MATERIAL! Gostei muito!

  • Se eu for classifivar em percentágem, fico em 70% sobrevivencialista e 30% preparador…(pela formação militar que tive)
    Mas acredito que muitas das características podem ser mescladas!

  • Também sou adepto das duas linhas, e acho que não deveria ser divididas, pois apesar de seguirem caminhos um pouco diferentes objetivo é o mesmo, acho até errado seguir apenas uma linha de pensamento, creio que todos deveriam aprender de tudo, as vezes o militarismo pode ser a única alternativa no momento ou a melhor alternativa pode ser o estabelecimento de um local fixo para o cultivo, por exemplo.

  • Sou um sobrevivêncialista desarmado (por enquanto) acredito que morrer pela casa ou pelo apartamento ou defendendo qualquer bem material é desacreditar da própria capacidade de reconstruir a vida em outro país, longe do conflito. Como Judeu na Alemanha nazista era melhor se trancar no seu “sótão” e esperar 10 anos para o mundo lá fora parar de pegar fogo ou ter condições de mobilidade para fugir para o oriente-médio e depois EUA? Pessoalmente quem soube fugir viveu mais e melhor do que quem se escondeu.

    No conflito armado sair do país pode ser uma maneira de sair da zona perigosa, no caso de uma epidemia seria sair da zona urbana independente do país que estiver… Como as ameaças são inúmeras os destinos das fugas são igualmente inúmeros, por isso no meu caso eu valorizo mais a capacidade para falar duas ou três línguas ou a capacidade para deslocamento camuflado “grayman” ou investir em ter múltiplas identidades para conseguir me safar de diversas situações de perseguição étnica , religiosa ou social… Ter muitas rotas de fuga, deixar minha Bob de trekking sempre pronta e o melhor de tudo, durante situações de risco potencial estou sempre visitando minha vó doente no interior, como o farei no início da copa e do racionamento de água, por que se alguma coisa tiver que acontecer é unanimidade que vai começar nos grandes centros!

    Se eu fosse Americano em uma guerra civil teria cidadania Mexicana para, quem sabe, fugir para lá, ou italiana, fugia para o México e depois para a Itália…

    Meu foco é, mobilidade e versatilidade! Portanto seguindo a visão do mestre Lobo eu seria 90% sobrevivêncialista e 10% preparador.

    Adoro a minha família mas eles me acham louco com essas idéias e o melhor que posso fazer é dar o exemplo porque eu não tenho recurso para preparar meus pais e irmãos se eles simplesmente não querem se preparar. Chega uma hora que por mais que gostemos das pessoas tem determinados caminhos e consequências que cada um tem que enfrentar sozinho, o máximo que podemos fazer é dar o exemplo, uma hora a lei da selva nos alcança.

  • Fique imaginando que fica mais propenso a ser um preparador um camarada que tem familia ou vive em comunidade e quer garantir a subisistencia deles por um periodo prolongado. Ao passo que um sobrevivencialista seria mais desprendido não?

  • carlossilvapb

    Me considero um preparador, mas sei que habilidades de sobrevivência são muito importantes também. Tento aprendê-las da melhor maneira possível. Ser mais nômade até poderia aumentar as chances de sobrevivência, mas quem tem filhos pequenos não pode se mover muito até que a criança chegue à uma certa idade…Portanto, me preparo e preparo o melhor que posso a defesa do que temos. Mas, num cenário de crise, nada é 100% seguro….

  • Boa explicação. Eu tô com um pé lá e outro acolá. Acho que o melhor seria englobar as melhores características de cada tipo dentro do possível.

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