Obtendo Informações: Princípios Básicos

Sempre tendo em mente um cenário hipotético, em uma situação de emergência a capacidade de receber um fluxo contínuo de informações pode fazer grande diferença.

Seja em um evento limitado, como uma falha no sistema elétrico de sua cidade, que lhe obrigue a permanecer alguns dias sem energia elétrica, seja em um evento de grandes proporções, que implique na necessidade de afastamento das cidades ou um volta ao campo, eventualmente, em especial no início dos fatos, muitas meios de comunicação continuarão a operar, sejam emissoras comerciais ou cidadãos, ou ainda os órgãos de emergência.

Iremos tratar então de duas formas de comunicação: unidirecionais e bidirecionais. Nesta primeira parte trataremos da comunicação unidirecional. Como unidirecionais teremos em mente sua capacidade em manter acesso a um fluxo de informações tal que lhe permita ter relativa consciência situacional, o que lhe permitirá tomar decisões mais embasadas. Claro, imaginamos TV, internet… Mas e se tudo falhar? Parece improvável? Nem tanto.

Em especial no Brasil dependemos das grandes unidade transformadoras das usinas hidrelétricas e demais unidades que convertem a energia gerada nas usinas para uma padrão que utilizamos. Essas grandes unidades transformadoras podem levar até um ano para serem produzidas. Ou mais. Imagine uma situação que importe no colapso deste sistema (clique aqui para ler um texto em inglês sobre o tema).

Sob este aspecto, imediatamente temos que pensar em um veículo capaz de obter informações com alcance global, de baixo custo e com grande disseminação. Esse meio primordial é o rádio. Seja em FM, AM ou SW (Ondas Curtas), um pequeno rádio portátil pode propiciar um bom fluxo de informações. Por pior que seja a situação, é de se esperar que algumas estações permaneçam no ar, no Brasil ou no exterior. Com isso, o rádio revela-se um item fundamental do equipamento de sobrevivência. De fato, uma postagem anterior aqui do blog apontava esse equipamento como importante.

É ideal que o equipamento seja dotado de capacidade de receber em todas as bandas, FM/AM/SW, pois a possibilidade de captar uma estação de rádio operando será consideravelmente maior.

Neste ponto, teremos um pequeno problema. Se os serviços básicos estiverem mantidos, em especial o fornecimento de energia, basta você ligar seu aparelho de rádio à rede elétrica e obter informações. Se a situação porém implicar na interrupção do fornecimento de energia, um pequeno estoque de pilhas pode garantir semanas de informações.

Um caixa de pilhas AA com 60 unidades, que ocupa pouco volume, custa no mercado em torno de R$ 20,00. Muito pouco, não? Por quanto tempo um rádio pequeno operaria, usado com moderação? Acredite, por muito tempo.

Mas e se situação for permanente? E se for necessário que você permaneça afastado das cidades, sem acesso a outras fontes de energia? Neste caso, entra em ação uma fantástica invenção: O rádio à manivela, com sistema de dínamo.

Exemplo de um pequeno e barato equipamento dotado de manivela (dínamo) e equipado com lanterna, que adquiri no comércio local. Custo: R$ 70,00. AM/FM

Estes equipamentos foram inicialmente desenvolvidos em grande escala para campanhas educativas de saúde em regiões remotas da África. Hoje, existe uma vasta gama de produtos, incluindo rádios combinados com lanternas, com capacidade de captarem a rede de emergências climáticas dos EUA, com recarregadores de celulares ou pilhas e mesmo com capacidade de recarregar com o uso de energia solar.

Basta uma rápida busca na internet para que se encontrem vários modelos, no Brasil ou no exterior, neste caso buscando-se por “crank radio”. Em geral, um minuto de acionamento da manivela garante um bom tempo de uso do rádio. Acabando-se a carga, basta acionar a manivela novamente.

Na internet, no comércio, em lojas especializadas ou mesmo no comércio popular podem ser encontrados vários modelos, em preços variados, deste de R$ 70,00 até os modelos mais simples. É uma aquisição de baixo custo, mas que pode fazer grande diferença em uma situação de emergência, em especial por também fornecerem, na maioria dos modelos, iluminação e fonte alternativa de energia.

Minha próxima aquisição será o Kaito Pro 600, que opera em AM/FM/LW/SW, por alimentação via rede elétrica, pilhas comuns, baterias recarregáveis, solar e manivela, e ainda é capaz de recarregar baterias. Custa por volta de US$ 70,00 no exterior. Mais impostos e fretes, não vai sair muito barato, mas é muito completo.

Kaito Pro 600

Existem equipamentos de custo mais elevado, como scanners de frequência capazes de captar transmissões em várias faixas de frequências, sejam radioamadores, rádios comerciais, TV, mas são equipamentos significativamente mais caros e raros são encontrados com fontes alternativas de energia. Muitos captam as frequências de serviço da polícia / bombeiros. Lembro que embora seja interessante em uma hipotética emergência captar tais frequências, interferir nesses serviços é crime.

Por quanto tempo os serviços telefônicos, elétricos e de água ficarão desabilitados? A extensão da propagação de determinada doença? Conflitos, agravam-se ou caminham para o fim? Obter informações pode facilitar o correto planejamento de suas ações.

Na próxima postagem falarei sobre a comunicação bidirecional, como manter a comunicação entre seu próprio grupo e com outras pessoas.

13 Comentários

  • Cara esse item é muito importante! Já existe um review dessa matéria?
    Dei uma olhada no ML e realmente não tem muitas opções de rádio à manivela.

    • Olha, não fiz um review propriamente dito, mas já usei em emergências da defesa civil. Com os rádios carregados, e com algumas maniveladas nas horas vagas, operamos o dia todo em um bairro atingido por um vendaval e pesado granizo. Claro, não usamos os HTs para bater papo, mas para contatos necessários. Quanto ao alcance, em região urbana, considere 1000, 1500 metros.

  • O outro vídeo já saiu? Se sim, pode atualizar o post com o link? Desculpa se já perguntaram isso. Abraço

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  • Denis Wolpert

    Uma outra questão que há que tomar cuidado é a questão de equipamentos multifuncionais. Quanto mais funcionalidades, mais complicada é a manutenção e o funcionamento, e mais coisas podem quebrar. Eu sou favorável a equipamentos com funcionamento claro e simples, e equipamentos específicos para cada função. Um rádio que sirva confiavelmente como rádio e nada mais; uma lanterna que sirva confiavelmente como laterna e nada mais.

    • Olá, Denis. Existem dois aspectos a serem considerados. Antes, desde que comprei há muitos anos um equipamento multifuncional para os escritórios que posso dizer que os odeio…hehe…hoje tenho impressoras, scanner e copiadoras separados.
      Mas quando falamos na prática sobrevivencialista ou do buschcraft temos que considerar primeiro a questão peso / volume. Tenho tantas lanternas que são exclusivamente lanternas, que operam com baterias comuns ou recarregáveis (surefire e ultrafire) , em como equipamentos com dínamo (wind´n go,) e canivetes dotados de pequenas lanternas (Guepardo e Gerber).
      Além disso, tenho alguns outros equipamentos dotados de lanternas, em especial os equipados com dínamos. Na verdade, o que se nota é que sempre que se fala em equipamentos de emergências para o cidadão comum, acionanos por manivela ou não, vê conjugados diversos equipamentos, mesmo pela facilidade de se portar tudo. O conceito disso, penso, é o “é melhor ter algo razoável em mãos em uma necessidade, que o melhor equipamento do mundo guardado em uma gaveta lá em casa….”.
      Abraços

  • Não sabia da existência desses rádios a manivela, muito interessante e útil.
    Vou dar uma pesquisada se encontro um barato.

  • Muito bom post! Um dúvida: Existe uma frequência de transmissão de emergência no Brasil? Sempre vemos este tipo de coisa em filmes e na mídia estadunidense, mas me parece que aqui no Brasil não há nada parecido…

    • Olá,

      Realmente não há. Na faixa do cidadão mundialmente considera-se o canal 9. Mas fora isso no Brasil só temos algumas frequências usadas em emergências aéreas / navais, também de padronização mundial.

      Nos EUA existe uma rede de sistemas de rádio e TV para emergências, e em especial para alertas climáticos, operando em frequências de rádios comerciais em ondas curtas.

      Aqui, graças a nossa falta de preparo, não temos nada parecido. Claro que também não temos problemas tão significativos como eles, como tempestades tropicais, furacões, tornados e terremotos.

      • Denis Wolpert

        Ou temos problemas tão significativos quanto eles… as enchentes em Santa Catarina, em 2008 (135 mortos, 150 mil pessoas sem água e eletricidade) e 2011, e os deslizamentos de terra na região serrana do Rio de Janeiro, em 2010 (231 mortos, 60 desaparecidos) e 2011 (916 mortos, 345 desaparecidos e 35 mil desabrigados), pareceram-me sérios o suficiente e tão graves quanto alguns terremotos e furacões, além disso tivemos os ataques do crime organizado entre 12 e 17 de maio de 2006, que resultaram na paralisação total de uma das maiores cidades do mundo: São Paulo; e na morte 128 pessoas em combates urbanos. Também ocorreram os ataques do crime organizado em novembro de 2010 no Rio de Janeiro, causando paralisia da cidade e 39 mortos.
        Situações de emergência como essa são ocasionais, aqui e em todo o mundo. Os Suíços talvez sejam os mais preparados do mundo, e parece que essas situações são menos constantes lá do que aqui. Para mim, o problema é o que o povo gosta muito de carnaval e futebol e pouco de se preparar para o pior, e nossos governantes gostam é de dinheiro, salvo honrosas exceções.

      • Denis, concordo contigo. Mas de pouco adiantaria uma rede de alertas sem a capacidade de alimentá-la com dados relevantes. Ninguém avisou sobre o risco que Santa Catarina corria, ou a região serrana do rio.
        Particularmente, penso que o correto seria a montagem de um grupo nacional de resposta rápida, que atuaria subordinado a um centro de emergências. Poderia ser equipado com 4 helicópteros MI-8 (1 cisterna, 1 grupo gerador, 1 UTI e 1 enfermaria, além de aeronaves de apoio. Mas penso que ainda temos que evoluir muito para chegarmos a isso…

  • Boa idéia, Anderson. Vou preparar. Obrigado pela sugestão.

  • Anderson Cavalcanti

    Esse rádio, em minha opinião, mereceria um mini-review… Não há muitas opções no Brasil, e este (Nautika) aparece sempre em sites a venda. Óbvio que é simples e limitado, mas poderia compor um kit e é importante não ficar na mão. Em síntese: é bom (razoável pelo preço pago) ou apenas tolerável?

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