Emergências odontológicas: o que fazer?


“Esteja preparado”! Esta é uma das maiores diretrizes dos sobrevivencialistas. E na odontologia não poderia ser diferente.

Assim, antes de sair pra qualquer missão, seja ela trabalho ou passeio, ou mesmo pra não ser pego “despreparado” numa crise, é altamente recomendável que você procure seu cirurgião dentista de confiança e peça pra ele realizar um bom exame clínico, bem como uma radiografia panorâmica, para tratar algum eventual problema atual ou futuro, pois emergências odontológicas são muito mais complexas de serem resolvidas por nós mesmos.

Mas e se eu for “pego de surpresa” por uma dor de dente? Ou mesmo me acidentar e quebrar parte de um dente? Ou até mesmo perder um dente completo (avulsão) mediante um trauma durante uma trilha ou mesmo na cidade?

Lógico que o objetivo aqui é falar de uma maneira simples e acessível de manobras que a gente mesmo pode realizar no clima dos “APHs” (atendimento pré hospitalares), onde realizamos cuidados paliativos que posteriormente serão completados por um profissional habilitado.

Mas chega de bla bla bla e vamos a prática:

No caso de uma dor de dente, o que eu faço?

Depende muito da dor. Primeiro vamos aprender a identificar a gravidade da mesma. A dor é só provocada (só dói quando encosta algo e logo passa) ou ela é expontânea (começa a doer “do nada” e demora a passar, sendo até irradiada, isto é, a sensação é de dor numa região, e não somente em um dente) ?

Dói mais com frio, com quente, com doce ou dói com tudo? Ou dói somente quando eu mastigo?

A partir destas respostas você poderá realizar um “diagnóstico” mais preciso e a partir daí, intervir com mais eficiência.

Dor provocada

Se a dor é provocada e passa rápido e sem uso de medicação ou mesmo só dói ao mastigar, pode ser uma cárie no início ou uma sensibilidade por “exposição do dente” (gengiva retraída), por exemplo. Pode também ser uma “pericementite”, onde os ligamentos que sustentam o dente se inflamam devido a um desajuste na altura do mesmo. Neste caso o uso de um creme dessensibilizante encontrado facilmente nas farmácias (peça dicas de marcas e tipos previamente ao seu dentista, e inclua este creme no seu EDC) aplicado no local na forma de massagem três vezes ao dia por cinco dias já produz o alívio necessário até você poder ter acesso a um cirurgião dentista para um melhor diagnóstico e tratamento. Ainda sobre dores provocadas, se a mesma for relativa a cárie (dor mais intensa, demorando um pouco mais pra passar) você pode usar um analgésico anti-inflamatório comum, vendido sem receita (tipo Nimesulida 100 mg) de 12 em 12 horas por cinco dias. Note que o ideal seria Inclusive discutir esta medicação previamente com o seu cirurgião dentista, de maneira a pesquisar se há alergias ou não, por exemplo. No caso deste medicamente específico, por exemplo, não pode ser utilizado em crianças menores de 12 anos. Portanto a consulta e preparação prévia da sua “farmácia” com a consultoria de um profissional é imprescindível! No caso desta manobra, ela também funcionará como paliativo até você obter ajuda profissional.

Dor espontânea

Agora se a dor for mais aguda, mais “espalhada” (isto é, não consigo definir um ponto exato onde dói) e demorar a passar, o quadro é mais complexo e pode indicar o comprometimento do canal do dente, que é uma estrutura interna que todo dente tem, formada por um nervo, uma artéria e uma veia. Neste caso a medicação a ser utilizada é bem mais forte e vendida somente com receita (normalmente são os inibidores de COX-2, uma das enzimas causadoras da inflamação) sendo que muitas vezes a medicação irá aliviar porém não retirar completamente a dor. Como este é um medicamento vendido somente com receita médica (retida inclusive), salientamos a necessidade da supervisão prévia profissional na indicação deste fármaco.

A boa notícia neste caso é que a dor aguda tem um começo, meio e fim, que começa com umas “pontadas enlouquecedoras”, que vão se acentuando. Porém, pode duras de horas a dias (no máximo 3 aproximadamente, e não de maneira contínua).

Mas quando o processo natural de necrose do nervo é concluído (morte do dente) esta dor cessa e dá lugar a uma infecção que na maioria dos casos não provoca dor, porém deve ser tratada o quanto antes, devido ao seu potencial de se espalhar (septicemia) e provocar problemas mais sérios, inclusive cardíacos, que podem levar a óbito.

Dente quebrado

No caso de um trauma com quebra parcial do dente, se o interior do mesmo (popularmente chamado de “canal”) permanecer ileso (se não houver sangramento no interior do dente) você pode até fazer um curativo improvisado. Existe um material chamado ionomero de vídro, que é de fácil manipulação e aplicação, e que seu dentista pode tanto te ensinar a usar quanto providenciar para você, pois não é um material vendido em farmácias.

Dente arrancado

Agora se o trauma for tão grande a ponto do dente “sair inteiro” da boca (acredite, isto é bem mais frequente do que você imagina), você deve procurar o dente, lavá-lo e colocá-lo ou no soro fisiológico, ou em um pequeno copo com leite ou até debaixo da língua (cuidado para não engolir!!!), comprimir a área da boca afetada com uma gaze o mais limpa possível (e ir trocando até o sangue parar de escoar) e procurar ajuda profissional o mais rápido que puder para fazer o reimplante do dente. As chances de sucesso desta manobra são proporcionais ao tempo que você demorar para chegar a um profissional. Quanto mais demorar, menor a chance de sucesso do reimplante. Agora se você estiver muito distante de algum atendimento profissional, pode lavar bem a região com soro fisiológico e “reimplantar o dente” na cavidade (alvéolo) original dele, amarrando ele nos vizinhos com um fio dental, para melhor estabilização do mesmo. Claro que recomendamos esta manobra em últimas circuntâncias (se você estiver a mais de um dia de distância de atendimento profissional, por exemplo), pois além de arriscada, as chances de insucesso são muito grandes.

E aí, deu pra ter uma noção básica de como “se virar” com uma dor de dente?

Se for o caso podemos detalhar mais alguns procedimentos, tais como o uso de cravo para analgesia (diminuição da dor) em outros artigos. Ou mesmo de “malva” para inflamações e infecções no geral.

Mas lembre-se sempre que a prevenção através de um exame e tratamento regular ou mesmo prévio a sua missão sempre será o melhor caminho!

Texto escrito por Augusto Machado, Cirurgião Dentista.

2 Comentários

  • Saúde bucal é um tema importantíssimo, adorei o texto e o vídeo no canal!

  • Miguel Henrique da Silva Bandeira de Santana

    Vocês são incríveis, me ajudou bastante, conteúdo de qualidade nota 1000000000

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