SHTF School: Em um cenário de sobrevivência… A violência era a parte fácil

Para aqueles que não conhecem o contexto do blog SHTF School, clique aqui para ler a introdução do blog e assim conseguir entender o texto abaixo.

Quando os tempos estão difíceis as pessoas apresentam todo o tipo de características ou lados…. chame como quiser. Esta é uma outra razão do porquê os textos detalhados sobre aquele tempo não são muito populares. Algumas pessoas fizeram coisas ruins e sobreviveram, ou coisas boas e morreram, ou pessoas apenas agiam de forma estranha naquele tempo.

Há muitas combinações. As pessoas mais tarde não querem discutir sobre isso, não querem lembrar sobre isso. Com o tempo, um homem pode realmente forçar-se a acreditar que ele não fez algumas coisas, mesmo que tenha feito.

Não há encontros felizes de pessoas que sobreviveram a tudo aquilo, não há nada como reuniões com churrasqueira e conversas felizes sobre “como era naquela época” enquanto tomamos cerveja.

Quando nós nos sentamos juntos, não falamos sobre aqueles tempos. Se nós realmente entramos nesse assunto, geralmente mentimos um para os outros. Todos nós que sobrevivemos temos algo em particular que não queremos contar ou lembrar.

Geralmente é algo embaraçoso ou muito ruim e cruel… Fazia sentido naquela época quando havia uma situação de sobrevivência, mas hoje quando você tem comida em sua mesa é difícil de entender… até mesmo para si próprio.

Eu tinha um amigo que era bastante corajoso quando se falava de situações duras como brigas, situações de vida ou morte, combate de homem contra homem até o fim… coisas difíceis como essas. Ele lidava bem com violência. Mas uma coisa que ele não podia aturar era o tempo entre o lançamento dos foguetes e as detonações de quando eles explodiam.

Para explicar um pouco para as pessoas que nunca estiveram na guerra, havia algo como “bombardeio surpresa” de lançadores de granadas múltiplos. Então você ouvia um “bum” distante, coisa de 15 ou 20 sons separados, sons graves, cada um a cada um segundo ou menos… quando você ouvia cerca de seis destes sons de foguetes sendo lançados os primeiros já estavam começando a cair.

A explicação sobre os sons parece ser pobre, pois as palavras não podem explicar. Mas normalmente este tipo de bombardeio era usado em uma área como uma rua, alcaçando cerca de 200 – 300m de diâmetro, tornando-a numa zona de morte. Era difícil predizer em que áreas eles iam cair antes do primeiro foguete explodir.

Então na vida real se você se encontrasse no aberto naquele momento e o bombardeio acontecesse onde você estava, você não tinha muitas chances de viver. Algumas vezes as pessoas pulavam em busca de cobertura e quebravam seus braços ou pernas fazendo isso… apenas para descobrir que os foguetes caíram em uma parte diferente da cidade. Aqueles poucos segundos entre o primeiro “bum” e a explosão onde os foguetes caiam parecia uma eternidade.

Eu poderia jurar que duravam por horas, não segundos… havia muito para pensar naqueles momentos.

Bom, voltando ao assunto, meu amigo não conseguia aguentar aqueles poucos segundos onde ele era pego em uma área aberta. Cada vez que isso acontecia ele perdia controle das funções de seu corpo (defecava ou urinava nas calças). Depois, ele chorava como uma criança. Claro que isto era razão para muita diversão… Ele se odiava cada vez que fazia isso, mas também não conseguia evitar.

Sentir no seu estômago quando os foguetes caem ao seu redor, é como se você quisesse vomitar e defecar ao mesmo tempo… algumas pessoas dizem que é devido as imensas vibrações, mas é o mais puro e real sentimento de horror, completa falta de controle sobre sua vida.

E lembre-se, ele não era nem um pouco covarde.  Cada um de nós tínhamos um momento de horror onde ficávamos desorientados, quando você se rende completamente.

Eu vi algumas vezes pessoas explodirem o cérebro de outras com armas e mais tarde até tirar sarro disso, mas vi essas mesmas pessoas vomitarem quando tinham que comer macarrão com vermes, vermes mortos cozidos com macarrão.

Para mim a pior coisa, ou o que mais odiava eram alguns cheiros. O constante cheiro de coisas queimadas. Não é aquele cheiro comum de madeira ou carvão, mas cheiro de muitas coisas pegando fogo. Um cheiro pesado e “gorduroso” que de alguma forma ia direto para seu estômago, como se fosse muitas coisas sujas queimando em um fogo bem lento. Nada se compara com hoje. O cheiro de corpos apodrecendo também estava lá.

A coisa mais próxima desse cheiro seria se alguém incendiasse uma pilha gigantesca de lixo urbano hoje. Mas ainda assim não vai chegar perto do que era. Especialmente pela manhã o cheiro era pior. Muitas vezes eu acabava de acordar e vomitava logo depois de cheirá-lo. Era algo mais forte que eu. Não tinha nada a ver com o quão forte ou fraco eu era.

Cada um de nós tem o próprio “ponto de quebra”, a maioria das vezes a violência era a parte fácil de nosso tempo quando tentávamos sobreviver.

Quando você se prepara para um possível cenário de crise, não fique muito perdido no meio de termos técnicos. Tente chegar até seus limites. Tente conhecer seus pontos de quebra.

Eu gravei um material para um novo curso com o Jay (coordenador do curso) aqui onde vivo nas duas últimas semanas. O Jay vem de um histórico complicado e já esteve envolvido em alguns crimes na sua adolescência e vida adulta. Ele é um cara muito legal hoje, mas devido ao seu passado violento, sangue e violência é algo fácil para ele. Mas ele tem problemas sérios quando vê ou sente cheiro de fezes.

Eu trabalho na área de emergências então levei ele comigo em alguns trabalhos onde eu saberia que seria algo nojento e muito ruim para ele. Virar um mendigo bêbado que defecou nas calças e esteve parado no mesmo lugar durante dois dias é uma experiência especial… principalmente para quem tem problemas com fezes.

Você pegou a ideia disso tudo. Eu acho que muita escrita de sobrevivência hoje é sobre reviews de equipamentos e comprar itens… isso é legal, mas eu sei, mas ir a lugares onde você não gosta hoje, lugares que vão puxar seus limites… é um tempo muito bem gasto.

Não espere “superar” todos eles. Algumas coisas sempre vão te pegar, mas ao menos conhecendo seu ponto fraco e estando preparado para ele, já será uma grande diferença em uma situação estressante de sobrevivência onde muitas coisas testam seus limites ao mesmo tempo.

Fonte: SHTF School

8 Comentários

  • Marcus Vinicius

    Esse relato é uma coisinha de nada dentre as atrocidades que acontecem em um período de caos extremo.
    Canibalismo, estupros de crianças e toda sorte de horrores passam a ser coisas corriqueiras.
    Acho que antes de ter que estourar miolos, de ver minha família vivenciar o lado podre do ser humano. O melhor a se fazer, talvez seja simplesmente abandonar esse navio maldito.
    Longe de mim ser um covarde, mas eu e minha família acreditamos em vida após a morte e não queremos carregar em nossas conciências, atitudes que nos envergonhariam e seriam motivos de pesadelos e remorços.
    Para que vivenciar todos esses horrores? Para sobreviver? Valeria a pena viver com tantos fantasmas para o resto da vida?
    Estocar alimentos, propiciar um refugio o mais seguro possível a minha família e fazer o posível para preservá-la até que as coisas melhorem é uma coisa.
    Outra é sobreviver a qualquer preço, não importando quantos teremos que matar, de pilhar, de subjugar.

    • Concordo contigo. Creio que o período de sobrevivência deverá ser pequeno, pois o ser humano foi feito para viver. Quando digo viver, digo ter direito a desfrutar de suas comodidades e poder manter seus valores morais e éticos intactos.

      Por outro lado, quando estamos no fundo do poço acabamos fazendo atos que nunca imaginaríamos sermos capazes… creio que para salvar sua família um homem é capaz de fazer absurdos.

  • Complicado, uma situação de SHTF, com crianças. Eu tenho bastante livros e jogos. Mas em casa. No caso de uma evacuação, no B.O.B. tenho um dominó para a pequena e um baralho para o menino ( mais velho) mas pretendo melhorar esse aspecto.

  • Excelente. Excelente mesmo. Acabo de jantar um delicioso filé de frango à parmegiana – com arroz. E fiquei imaginando que talvez eu fosse pirar se tivesse que comer comida estragada, pois sou muito fresco com comida. Quantos outros breaking points eu não devo ter também, não? Esses relatos são extremamente relevantes.

  • Diego Parreira de Queiroz

    Interessante, acredito que já presenciei muita coisa ruim, mas nada mais tenso que crianças. Acredito que por ter filhos este e meu ponto de quebra…

  • Muito bom…existe no mercado otimos cursos para levar a pessoa ao extremo, claro que em ambiente controlado e essas experiencias contaminam tanto o seu ser que você acaba levando isso para sua vida toda e incorporando o aprendizado no seu dia a dia.

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