RELATO: EMERGÊNCIA MÉDICA

Aqui escrevo um relato de como a preparação me ajudou a enfrentar uma emergência de saúde com a minha filha a 1.500 km de distância. Me chamo Felippe e tenho 39 anos e Moro em Cuiabá – MT, onde vivo há cerca de 8 anos. Tenho duas filhas: a mais nova, de 5 anos, mora comigo e minha esposa, enquanto a mais velha, de 11 anos, vive em São Paulo com a mãe. 

No dia 26 de novembro de 2024, às 20h18, enquanto estava em casa em Cuiabá, recebi uma mensagem que nenhum pai deseja receber. A mãe da minha filha mais velha, que mora em São Paulo, avisou que ela havia dado entrada no hospital com fortes dores abdominais. Apesar de morarmos em cidades separadas, sempre me esforço para estar presente na vida dela, mas, naquele momento, a distância de 1.500 km ficou evidente.

Com apenas 11 anos, a Ísis é forte e raramente se queixa de dores. Durante um vídeo chamada, notei que ela estava pálida, com a voz fraca e claros sinais de dor. Isso tornou a situação ainda mais preocupante. Durante o contato com a mãe, fui sendo informado sobre os exames e as suspeitas dos médicos. Quando mencionaram a possibilidade de apendicite, eu soube que não podia ficar parado. Precisava ir para São Paulo imediatamente. Eram 22h do mesmo dia, tudo o que eu precisava já estava pronto e a passagem comprada, pegaria o próximo voo para São Paulo. Meu objetivo era estar ao lado dela o mais rápido possível.

Lembro do primeiro vídeo que assisti do Sobrevivencialismo há 11 anos atrás – Como fazer uma Horta Hidropônica vertical em PVC pt1 – se não assistiram, recomendo que assistam, nostálgico e muito bom. A partir desse dia, acompanhei a evolução em muitos momentos do canal e tentei sempre aplicar, na medida do possível e dentro da minha realidade alguns ensinamentos, mas confesso que isso só ficou evidente quando me mudei para minha cidade atual, aqui a infraestrutura e trabalho exigiram coisas que em São Paulo nunca seriam um problema.

Ser pai à distância nunca é fácil, aprendi isso desde cedo, já que desde o primeiro ano de vida da Ísis já morávamos em casas separadas. Agora em Cuiabá e ela em São Paulo, se algo acontecesse e eu precisasse estar lá rapidamente? Foi a partir desse cenário que comecei a minha preparação:

  • O que seria essencial para uma viagem de emergência?
  • Quanto dinheiro seria necessário para cobrir passagens e despesas imprevistas?
  • Quem poderia me ajudar enquanto eu não chegasse em São Paulo?
  • O que eu preciso levar?

Veja, eu sou uma pessoa comum, com recursos limitados, então partindo dessa premissa e “sem pirar o cabeção” montei uma pequena lista e o primeiro item era a reserva financeira, parece óbvio, mas precisa ser dito.

Quem precisou comprar uma passagem de última hora, sabe que ela não sai nada barato, então usei uma média de valores e reservei cerca de R$4.000,00 em um fundo de emergência para essa situação (Não importa se é em dinheiro, poupança, CDI D+1, bitcoin etc.) No meu caso, precisava do dinheiro disponível nos próximos 15 dias, fora isso, o limite de cartão dava conta de resolver algum imprevisto. A reserva financeira não foi criada da noite para o dia, passei alguns meses juntando pequenos valores até atingir meu objetivo.

Em seguida, uma mochila, esse era o item mais fácil, ela precisava atender alguns requisitos, precisava ter o tamanho permitido para embarque sem despacho de bagagem (lembre-se o objetivo é ser o mais rápido possível) a que estava a mão era minha velha de guerra, uma quechua de 30L e foi mais do que suficiente, precisava levar:

  • Medicamentos básicos e específicos para meu uso.
  • Roupa para 3 dias (camiseta, cueca, meia etc.)
  • Um fleece e um corta-vento.
  • Snacks para aguentar o trajeto por pelo menos 24 horas.
  • Carregador, cabos, kit de higiene etc.

 Essa preparação antecipada fez a diferença no caos daquele momento. A compra da passagem foi rápida, mas fica aqui um alerta: muitos bancos bloqueiam transações fora do padrão do cliente, especialmente à noite. Então minha dica é, use um cartão virtual para reduzir as chances de bloqueio. Enquanto fazia um último check-in da mochila, eu parecia calmo, mas, por dentro, estava realmente assustado. Eu só queria chegar. Conheço bem o tempo que levo até o aeroporto e os procedimentos de embarque, mas, naquela noite, cada minuto se arrastava muito.

Agora são 23:38 já estou pronto, fiz uma refeição rápida e solicitei o Uber para o aeroporto. O embarque estava previsto para às 03:20 Am do dia 27 de novembro. Durante o período de espera, quando a adrenalina inicial foi baixando me lembrei do livro Indicado pelo Julio em uma live: Impensável: Como e Por Que Pessoas Sobrevivem a Desastres. lembrei das três fases emocionais em momentos de crise: Negação, Deliberação e Momento Decisivo. Recomendo a leitura se você se interessa pelo assunto.

Doze horas após a primeira mensagem eu cumpri meu objetivo, cheguei em São Paulo e estava ao lado da minha filha no Pronto Atendimento do hospital, é difícil descrever em palavras a sensação de ver sua filha na maca de um hospital, tomando soro com remédio para dor e ao mesmo tempo sorrindo ao te ver, tentando do jeito dela transparecer calma e alegria. Só quem é pai sabe distinguir a dor de verdade da sua filha de uma cara de dor, de um “esbarrei em algo”, era dor de verdade.

Naquele momento eu fui o mais forte possível, fiz o que deveria ser feito, mantive a calma e acalmei ela, brinquei, contei histórias e ponderei as informações dos exames e as informações da médica. Entre minha chegada e a liberação do quarto para a internação, foram mais 12 horas no pronto atendimento ao lado dela, nesse ponto, cada real gasto com o plano de saúde valeu a pena e até aquele momento ela já havia sido atendida pelo médico de plantão e também cirurgião de plantão.

Engraçado como, diante de uma avalanche de acontecimentos, o instinto toma conta. Você não pensa, apenas age, seguindo em frente. Depois de tudo, ao finalmente me instalar no quarto do hospital e com ela já descansando, o cansaço tomou conta de mim, 36 horas sem dormir, pouca alimentação e água, não porque não tinha disponível, porque simplesmente eu esqueci, só queria que ela ficasse bem então, qualquer coisa era secundária. Tudo o que eu queria era um banho quente e uma refeição. Consegui o banho quente, já a refeição… enfim, quem já comeu em um hospital sabe como é.

Foram 24 horas de internação para observação. Dois exames de sangue e nenhum mostrou alguma alteração que indicasse infecção, e os exames de imagem foram inconclusivos. Após a avaliação de dois cirurgiões, fomos liberados. Ela não precisou de cirurgia Graças a Deus, e, embora não houvesse um diagnóstico conclusivo para a dor intensa, ela se recuperou nos dias seguintes e continuamos a investigação junto com o pediatra e novos exames. 

Essa experiência reforçou ainda mais o lema do Sobrevivencialismo: esteja preparado. Cada indivíduo possui necessidades específicas, realidades distintas e condições financeiras e situacionais únicas, mas não impede que você faça alguma coisa para estar mais preparado para alguma eventualidade, seja, precisar viajar às pressas como eu ou construir um abrigo de detritos. 

Tirei algumas lições dessa situação, primeiro ninguém faz nada sozinho. Minha esposa, em Cuiabá, deu todo o suporte emocional e prático enquanto eu me preparava para viajar. Meus pais e minha irmã, que estão em São Paulo, foram fundamentais. Eles me ajudaram a enfrentar a logística e as longas horas de espera no hospital, hora levando algum alimento, conversando e me confortando ou buscando alguma informação com enfermeiros e médicos. Sem eles, nada teria dado certo.

Segundo preciso aliviar o peso da mochila, adicionei redundâncias desnecessárias, mesmo levando o básico, senti que ela estava pesada demais e posso reduzir ainda mais. Por mais que tenha me preparado antecipadamente durante a checagem eu retirei o kit de higiene e não tinha escova de dente, coitado de quem precisou aguentar o meu bafo, então preciso melhorar a disposição das coisas para não acontecer isso novamente.

Espero que de alguma maneira, esse relato possa ajudar você a se preparar. Obrigado a toda comunidade sobrevivencialista por compartilhar experiências e divulgar conteúdos que ajudam as pessoas. Sem essa educação, com certeza eu teria passado um grande aperto. 

Esteja preparado. Felippe Antonachi.

um comentário

  • ricardo46c521dd34
    Avatar de ricardo46c521dd34

    Importante o depoimento porque mostra na prática a importância de estarmos preparados.

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