SHTF School: Expectativa de vida do “Lobo Solitário”

Nos últimos anos eu tenho recebido muitas questões do tipo “O que fazer se uma crise acontecer e eu for um lobo solitário?” e as minhas respostas sempre foram muito pessimistas quando se trata de estar sozinho em uma crise.
Não é impossível, mas é muito, MUITO difícil. O leitor chamado Robert perguntou:
“Selco, qual seu conselho para pessoas que não tem família ou amigos nas áreas imediatas em caso de um desastre acontecer? Ficar no local e tentar conhecer pessoas? Fugir para o mato onde os suprimentos são limitados, o clima é feroz e a sanidade começa a se perder? Existem pessoas por aí que não possuem uma rede de apoio. Eu vejo isso da seguinte forma: Se você está sozinho e uma crise ocorra talvez a melhor proposta seja ficar onde está e interagir com aqueles que estão em volta, assim você poderá juntar recursos e formar um grupo. Você ficará saudável mentalmente, aprenderá novas habilidades, terá uma estrutura para lidar contra o clima, poderá negociar e manter-se mais estático, reduzindo o gasto calórico. Quais são as opções que você acredita serem viáveis para um homem solitário?”
Esta discussão trás outros pontos interessantes de debate e a afirmação “estar sozinho na crise” pode gerar muitas conclusões e ideias erradas, então vamos considerar alguns problemas aqui que você poderá enfrentar se estiver sozinho em uma situação de crise urbana.
Estar sozinho quando a crise acontecer na cidade
Primeiro eu preciso pontuar aqui novamente a diferença entre a visão romântica e a real de sobreviver em uma cidade.Toda cidade é um misto complexo de serviços e ela só funciona se todos eles estiverem trabalhando em harmonia, somente assim o homem “comum” pode viver no local.
Quando estes serviços param de existir, você não está mais em uma cidade. Não como você conhece.
É uma grande quantidade de pessoas dentro de uma grande quantidade de prédios e casas que não funcionam. Para ficar mais simples de entender, quando uma crise acontece a cidade se torna um local muito pequeno para suportar a quantidade de habitantes. Você percebe que são muitas pessoas para pouca água, energia, comida, segurança e etc.
Ela deixa de ser uma cidade e se transforma em uma armadilha complexa que irá forçar você a aprimorar sua força, suas habilidades, sua visão do que é certo ou errado de uma forma que você não conseguirá imaginar agora.
Claro, as pessoas vão sobreviver, mas algumas vezes pagando preços muito altos.
Vamos trazer alguns exemplos aqui para facilitar:
- Você está sozinho e sua casa está sobre ameaça. Quanto tempo você poderá ficar de vigia, cuidando o local contra a ameaça? Uma noite? Um dia e uma noite? Quanto tempo demorará até você ver coisas que não estão ali, ou pior, estar cansado o suficiente para começar a não ver o que deveria ser visto?
- Agora adicione o problema que talvez você tenha que fazer guarda durante 48 horas enquanto está tendo diarréia, ou febre.
- Quem vai cuidar do seu local quando você estiver fora procurando por recursos ou informações, por exemplo?
Ficar em sua casa dentro da cidade para que você consiga ficar “abaixo do radar” por alguns dias, ou dormir durante a noite inteira pode soar muito bom, mas não é nem um pouco provável.
Fugir “para o mato”
Talvez seja coisa minha, mas eu acho que muitos poucos tem capacidade de “ir para o mato” e sobreviver por períodos prolongados de tempo.
Fugir para o mato não é como uma viagem de camping, pois o camping é somente isso – uma viagem – você vai para um local mais selvagem cheio de recursos e depois volta para sua vida normal em 5, ou 10 dias ou até mais… Mas você vai voltar.
Sobreviver em ambiente selvagem por tempo prolongado é algo completamente diferente, pois você terá que começar uma vida nova, de certa forma. As habilidades, força física e mental necessárias para isso estão muito além da maioria dos preparadores que estão considerando essa possibilidade.
A maioria dos caras que tentarem isso sem terem planejamento e muito treinamento vão simplesmente acabar mortos.
Formando um grupo
Eu sou um grande apoiador quando falamos de construir uma rede de pessoas confiáveis. Simplesmente por que eu vi o que significa ter alguém em quem realmente podemos confiar em uma situação de crise.
Contudo existe uma diferença entre formar um grupo antes da crise e depois dela, pois um grupo bom leva tempo para se estabilizar e criar laços de confiança fortes. O bom senso diz que precisamos sempre construir um grupo ANTES da crise, pois isso demora.
Construir um grupo depois que a crise começou geralmente significa que você terá de criar “alianças” com pessoas que você não conhece muito bem e nunca sabe se elas poderão se virar contra você quando menos esperar.
Conclusão
Como uma resposta direta para a pergunta original no começo do post:
Robert,
Se você me perguntasse o mesmo há vários anos atrás eu diria que o correto seria fugir para o mato e apostar nas suas chances, mas os anos de experiência me fizeram mudar de pensamento e hoje eu digo que você tem apenas uma escolha – fique em seu abrigo.
Sem amigos, sem conhecidos, sem família, sem abrigo secundário, sem habilidades altamente treinadas e sem a mentalidade correta para sobreviver no mato… Você terá de apostar suas fichas em fortalecer seu abrigo.
Mas considere que você precisará ser muito flexível na forma de pensar e estar pronto para se movimentar na cidade. Ficar trancado dentro de um “abrigo” é muito difícil.
Você precisa considerar abrigos alternativos, próximos de sua casa, estoques escondidos/enterrados com armas e comida, pessoas que você vai usar como ajuda, aquelas que você vai evitar e que tipo de contatos terá que movimentar para conseguir o que precisa.
Não espere encontrar 6 boas pessoas no segundo dia de crise. Use as pessoas de acordo com cada situação e não confie em ninguém.
Meu conselho, de forma resumida, é ficar em casa escondido. Mas não o tipo de “ficar em casa” que as pessoas pensam, com toneladas de itens e preparado para morrer por elas. Você precisará ficar altamente móvel, criando várias escolhas de onde poderá dormir, descansar, passar o dia e tudo mais.
Texto traduzido e adaptado do blog SHTF School.
Sou novo no site não entendi o que significa “ter experiência ” e ter vivido tais situações? Não é ironia
Legal o texto!
Obrigado pela tradução.
Realmente, tem coisas que só aprendemos com o passar do tempo.
Julio, parabéns pela iniciativa, de trazer mais material para o “mercado nacional”.
Muito bom! gosto muito desse ponto de vista.
Apenas um pensamento meu: raramente as crises acontecem num instante, exceto as de ordem natural ou desastres como a catástrofe de Mariana; que também contam com a participação da natureza.
Crises sociais como guerras e outras situações do tipo costumam emitir sinais, pode ser percebido pelas notícias, pela movimentação das redes sociais e outros “termômetros’ que podemos usar para “medir a temperatura do ambiente”.
Quando estamos longe de casa e existe a percepção real de que alguma coisa muito errada está para acontecer, o correto é não “abusar da sorte” e retornar.
O Selco escreve muito bem, não deixa margem de dúvida, essa é a diferença entre ser um “consultor” sem experiência e ter vivenciado tais situações.
Valeu Júlio por traduzir e publicar!
Fico feliz que tenha gostado Celio, faço questão de manter as traduções do Selco por aqui exatamente pelo tom de experiência que ele tem no discurso dele.
Abraços!