[+18] SHTF School: Violência pós desastre

Hoje eu volto ao passado na minha mente. Eu escrevo muito sobre preparações e recursos desde o tempo que fiquei preso na minha cidade, mas desta vez eu vou apenas escrever sobre “como era” naquele tempo. Lembre-se que todos nós estávamos em uma situação complicada e não tínhamos preparações, além de muitas vezes descobrirmos que nossos aliados haviam se tornado inimigos no dia seguinte…
*Selco, autor do blog SHTF School é sobrevivente da guerra da Bósnia, onde passou um ano em uma cidade sitiada onde não havia recursos ou leis.
Violência é um assunto que as pessoas gostam de falar, dar teorias e opiniões, mas ao mesmo tempo pouquíssimos de nós realmente experimentamos a “coisa de verdade”, como estar preso em uma situação deteriorada por tempo prolongado.
Você pode ter vivenciado brigas de bar, invasões domésticas ou até mesmo um tiroteio ou algo semelhante, e realmente estes eventos podem mudar nossas vidas, mas eu estou falando sobre violência em larga escala e de longa duração que trás algo como um “novo estilo de vida”, uma violência extrema que demanda uma mudança completa na forma de pensar.
Eu muitas vezes ouço – e concordo – que violência não soluciona nada, que só gera mais violência. Mas quando você está encarando um homem que quer te matar, você provavelmente terá de matá-lo para poder sobreviver. Eu espero que neste momento você não pense em filosofia ou ética, que apenas faça o que tiver que fazer para continuar vivo. É claro que mais tarde você terá que pagar o preço, é assim que as coisas funcionam.
Conforme eu fui ficando mais velho eu percebo cada vez mais que violência é uma coisa muito errada, mas ao mesmo tempo percebo que eu tenho de estar mais e mais preparado e capaz para quando esse tempo chegar. É um paradoxo, mas é assim que as coisas funcionam. Eu não gosto disso, mas as coisas são como são.
A violência e você
Este é um tópico muito grande para tentar explicar em apenas um artigo, mas algumas coisas eu quero tentar mostrar aqui para você.
Pense em uma pessoa – bastante igual a você. Um cidadão comum, uma pessoa que obedece a lei. De repente você é jogado em uma situação prolongada onde você será forçado a assistir e usar níveis excepcionais de violência. Você acha que vai conseguir “operar” nestas condições com a forma de pensar que você tinha quando tudo era normal?
Não, claro não. Você terá que pular para uma nova forma de pensar para sobreviver. Vamos chamar esta forma de “modo de sobrevivência”.
Neste modo de sobrevivência você não terá que esquecer dos tempos “normais”, mas terá que colocar estas memórias de lado para operar neste modo mais focado em sobrevivência. Por exemplo, você teria que ignorar o medo, pânico, cheiros e barulhos no meio de um ataque para ser capaz de sobreviver.
Talvez você tenha que ignorar a criança gritando do seu lado, talvez você tenha que ignorar seu orgulho e correr, talvez você tenha que ignorar o seu “pensamento normal” ou até mesmo atacar um agressor pelas costas.
Existe uma lista de prioridades na vida normal, e o mesmo acontece no modo de sobrevivência.
Podemos dizer que durante nossa vida normal nós usamos “diferentes faces” para lidar com as pessoas ao nosso redor. Da mesma forma, quando você encontra a violência também terá que usar uma nova face.
Violência e experiência
Existe um jeito estranho de pensar sobre este tópico, mas como eu vivi em um tempo onde muitas pessoas não morreram de velhice e sim de violência, eu tenho experiência neste assunto. Então aqui vão alguns pensamentos.
Experienciar violência por um período prolongado não lhe transformará em um super homem, na verdade lhe deixará como um homem deficiente, com muitos problemas psicológicos e físicos.
Ainda assim, se eu me colocar na linha de pensamento de que estou em melhor posição agora que pessoas morreram perto de mim, sim, você pode me chamar de vencedor ou ou sobrevivente… Mas este “título” é algo bastante vazio.
Sou um homem sortudo? Sim. Sou um homem feliz? Não.
Mas nós não estamos falando de qualidade de vida, estamos falando de sobreviver ou não.
A maior vantagem em ter experiência com a violência é qeu você simplesmente SABE como as coisa funcionam nestas situações. Você sabe o que esperar. Você sabe o que o caos é, sabe como lidar com ele da melhor forma.
Se preparando para violência
Como disse antes, não existe nada como experiência real – quando você vive a violência real isso se prende na sua memória para o resto da vida. O que é o mais próximo disso? A experiência de outras pessoas.
“Então faz sentido ler sobre as experiências de vidas de outras pessoas?” Sim, quanto mais você ler, melhor.
Treinar seu corpo é uma ótima coisa. Treine para deixar o seu corpo pronto para tarefas difíceis – mas treinar sua mente é mais difícil ainda. Hoje você pode apenas imaginar como será e como isso vai te afetar.
Eu posso lhe dizer que é duro, caótico. Posso descrever a situação, mas você não conseguirá trazer o sentimento de terror nas suas entranhas, da vontade de defecar nas calças. Você não conseguirá entender o cheiro do medo, ou de um corpo em decomposição. Não entenderá como é o sentimento de que “eles” estão vindo para pegar você.
Por enquanto, você pode ler histórias e experiências de vida para basear a “construção” do seu modo de sobrevivência. Ainda assim, há uma pegadinha aqui. Se você construir esta forma de pensar de maneira muito firme, se algo não sair como você havia pensado quando uma crise acontecer você continuará agindo de forma errada e poderá ter sérios problemas.
A situação não vai se adaptar á sua forma de pensar, ela vai te matar se você ficar preso ao seu plano quando ele não estiver funcionando.
Você simplesmente terá que se adaptar.
Isso serve para várias situações. Se você planeja defender sua casa até você morrer, você provavelmente irá morrer. Sempre que eu ouço as pessoas dizendo “Quando uma crise acontecer eu vou fazer isso… ou aquilo” eu sinto pena deles. Quando uma crise acontece você muda o seu plano de acordo com a situação.
A mesma coisa acontece com a violência. A violência é uma ferramenta que você utilizará de acordo com a situação, é uma ferramenta, não um brinquedo.
Agora para finalizar com um pensamento. Pode parecer, a partir do que eu escrevi, que uma situação de crise parece com um filme do Mad Max, com todo mundo correndo, matando e fazendo as coisas sem consequências. Na verdade, este mundo fantasioso onde “não existem regras” é uma grande discussão em vários círculos.
Com certeza a “lei” normal não funcionará mais. Não existem autoridades ou tribunais como os que conhecemos hoje para deter ou punir, MAS, durante uma crise você encontrará:
É possível (especialmente no começo da crise) que você saia e veja pessoas saqueando lojas, grupos se organizando e tentando defender uma parte da cidade e outros trazendo o caos apenas por diversão. Este cenário pode trazer violência e morte para você, com certeza. Com o tempo a violência se tornará mais organizada e estruturada para atingir certos objetivos específicos.
Depois de certo tempo, ao olhar para a violência você encontrará ela de duas formas. Violência acontecendo fora do seu grupo ou dentro dele (sim, você precisará estar em algum tipo de grupo para ter as mínimas chances de sobrevivência).
Quando a violência acontecer fora do seu grupo você desejará ser muito “pequeno”, invisível. Você não prestará atenção para a violência cometida contra os outros, afinal, você está vivo e quer continuar assim. É algo como “Eu ainda estou vivo, eu não quero saber o que estão fazendo com aquela pessoa e o quão ruim é”, você está apenas cuidando de você enquanto vê os outros sendo mortos, não importa desde que você esteja vivo.
Os líderes de grupos “ruins” tem maiores chances de se manterem no poder se os membros temerem eles, então estes são os humanos mais repulsivos, bastardos e sanguinolentos. Em grupos assim, implementar disciplina (pelo medo) e forçar as suas regras são formas comuns para segurar sua posição de liderança.
Vários grupos vão interagir com o “mundo lá fora” e entre si durante lutas, trocas de informações e comércio, mas continuarão fechados e confiando apenas em seus próprios membros. A formação de grupos foi bastante rápida no meu caso, ninguém esperava que a crise ia acontecer então ninguém estava preparado – rapidamente estávamos lutando pela sobrevivência. Qualquer problema era solucionado “na raça” por meio de acordos ou até mesmo ameaças de violência.
Para finalizar e te educar (não chocá-lo)… Muitas pessoas não conseguem entender com clareza o nível de violência que eu estou descrevendo. Talvez você pense que a crise seja algo como “Black Friday” no shopping, então vou dar alguns exemplos de quanto o mundo em que eu vivi desceu de normal para extremo. Lembre-se que eu vivia em uma cidade normal, em um bom país, na Europa e há menos de 25 anos atrás.
- Pessoas que nunca usaram a violência antes começaram a se tornar muito violentos: Pessoas normais, pais e mães matando outros para salvar suas famílias;
- Certos grupos de pessoas pareciam que estavam esperando a crise acontecer para que eles saíssem das sombras e pudessem preencher suas fantasias de donos do mundo ao sequestrarem pessoas, estuprarem mulheres, torturar e cometer atrocidades das formas mais estranhas possíveis;
- Raiva irracional direcionada para “outros” (aqui você pode colocar religiões, partidos políticos, nações e grupos). É muito fácil manipular grupos de pessoas por meio do medo e da raiva. Se alguém manipula você dizendo que sua criança está passando fome por causa daqueles “outros”, você poderá cometer atos muito extremos.
Exemplos reais que eu vi:
- Pessoas sendo queimadas vivas em suas casas (enquanto outros assistiam e ficavam felizes);
- Prisões privadas onde você poderia ir torturar alguém por diversão ou simplesmente estuprar uma mulher como “recompensa”;
- Crianças acima de 13 ou 14 anos eram contadas como adultos, sendo mortas como inimigos;
- Humilhação de pessoas das mais diversas formas para conseguir coagi-los a algo, como por exemplo forçar prisioneiros a fazerem sexo com a própria família (Pai com filha e semelhantes);
- Violência era uma coisa normal, você ia para as ruas e atiravam em você porque está do lado errado ou porque um atirador quer testar seu rifle.
É importante ter esta realização – mesmo que deprimente – que as pessoas, mesmo as mais normais, podem se tornar muito cruéis e de forma muito rápida. Esta é uma das lições mais importantes para se guardar quando estiver focado em suas “preparações”.
Como sempre, adoraria ouvir seus comentários e experiências onde você teve de lidar com a violência e que lições você tirou delas.
Traduzido e adaptado do blog SHTF School.
O que posso observar que não precisa de um guerra para ver o ódio se arraigando nas pessoas. Pessoas se matam todos os dias por diferenças religiosas, times de futebol, partidos políticos, briga de transito. Tudo esta virando estopim para iniciar confrontos. Assassinatos, estupros envolvendo crianças. Chegamos a tal barbárie que até a própria família é questionável, pai matando filho e vice versa. E cada nova manchete dessas nos crias cascas que vão nos dando a impressão que é normal cotidiano. Nossa humanidade é questionada assim como também nossa racionalidade. Meu ciclo de pessoas que confio se resume nos dedos das mãos um risco muito grande quando aprendemos que não se confia em ninguém.
Não está aparecendo o texto para mim, algum bug no site?
Abraços
O texto sumiu, ué….
Sim, algo aconteceu neste fds e alguns textos do blog sumiram. Já acionei o Julio.
Esse texto é um alerta, não só para mim, como para tod@s nós. Talvez vcs não tenham notado, mas cada vez que ele cita a palavra “mulher” o verbo associado é o “estuprar”. Infelizmente a sociedade colocou as mulheres numa posição de fragilidade, dependência e medo, e COM CERTEZA, (me desculpe a percepção masculina de Celco) não há forma de uma mulher “ficar pequena e invisível”. Nós já somos! E nenhum parceiro/amigo/irmão/pai/namorado/tio/conhecido vai querer morrer por nós qdo nosso corpo for violado por 1, 2, 3 psicopatas-pós-apocalipse, pois como ele bem citou (e certamente faz todo sentido), o importante é estar vivo e deixar a violência que não seja com vc correr solta…
Um conselho: se vc tem mulheres orbitando em seu ciclo de relações sociais: INCENTIVE-AS AGORA a aprender auto defesa, a correr, a ter auto confiança, a usar armas, a lidar com extremos, ou qq outra coisa que a coloque de pé, firme e decididamente pronta para defender a elas mesmas. Ou então acostume-se: viveremos um pós apocalipse rodeado de cuecas…. (oba p/mim!)
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Perái que vou ali aprender como me disfarçar de homem…. #valetudoprasobreviver
Joana D’arc & Maria Quitéria, sou fã de vcs! kkkk
OI, Moni. Não concordo integralmente. A maior “surra” que ja tomei como praticante de artes marciais foi de uma mulher…rs….e eu já era peso pesado. Claro que não foi “pra valer”, mas a técnica dela superava com folga meu maior peso. E quanto a defender mulheres….bom…..como pai, eu lutaria até o último suspiro…dane-se a sobrevivência….
Oi, Hwidger! Poxa, mas foi UMA mulher específica… qtas são como ela? Pouquíssimas!
De qq maneira, a minha pergunta é: gostou de apanhar de mulher? auhauhauh #brinks
Vamos colocar mais mulheres para dar porrada e tiro por aí, pq assim a gente garante nossos relacionamentos, vínculos familiares íntegros e até a possibilidade de futuro. Inté!
Moni, gostei de não ter sido para valer….a mulher parecia ter 8 pernas….rs…..nunca levei tanto chute….kkk
Cara o pior é que elas não sabem o potencial que tem, eu nunca pratiquei um esporte de luta, sou louco por kung-fu, mas… Bem eu treinei minha irmã no mais básico que é o dar socos, ela no começo não gostava, mas eu forçava ela a “brincar” de luta, agora a menina tem um soco potente pra caramba, mas péssima preparação física (digamos que a minha preparação é ruim) mas uma coisa que eu percebi nas mulheres que lutam, como a maioria, elas prestam muita atenção nos detalhes, sempre quando eu vou “socar” (de brincadeira claro) minha irmã, ela sempre bate nos meus pontos vitais fazendo meus golpes serem inúteis, isso é excelente, mas ela nunca me escuta quando eu digo para se preparar física e mentalmente. E infelizmente mulheres, só vcs assistirem os noticiários, que não se trata só do estupro, quando um vagabundo vai assaltar, 90% dos escolhidos são mulheres… infelizmente essa é a sociedade podre em que sempre vivemos… Só sei de uma coisa quando eu for pai, os outros colocam as filhas no balé vestidinhas de rosa, eu vou fazer questão de botar minhas filhas (se tiver meninas) em artes marciais. E mulheres me desculpem mais uma vez, mas uma fraqueza mortal que eu percebo nelas é o sentimentalismo, em tempos de sobrevivência creio que isso leva a morte, é algo muito sério.
Ola Moni,
os hediondos relatos recentes de estupros coletivos no Brasil vem reforçar os teus comentarios sobre o texto.
Triste mas real….
Oi, Toninho, sim, foi uma coincidência ruim, mas que vem a calhar par ilustrar a fragilidade da grande maioria das mulheres. Que possamos todos nós incentivar mais mulheres no sobrevivencialismo a partir dessa ocorrência fatídica, mas REAL e ainda em momentos de “civilidade” (imagina como seria durante um caos…).
Inté!
As experiências do Selco são uma versão prática do que lecionamos sobre o homo homini lupus, o homem é o lobo do homem, sobre como vivíamos antes de estados capazes do monopólio do uso da força e de ordenamentos jurídicos uniformizadores do comportamento social. Não deixa de ser um triste alerta sobre a fragilidade de nossa sociedade, e sobre o perigo da construção de países artificiais, desconsiderando-se identidades territoriais diversas. Limitadamente, algo semelhante ocorre na África, em países com fronteiras e territórios artificialmente construídos.
“que as pessoas, mesmo as mais normais, podem se tornar muito cruéis e de forma muito rápida.”
Vi um documentário no youtube, onde um geneticista afirma que todos nós possuímos genes que podem nos fazer matar ou roubar, porém, devido a não necessidade, a ter acesso aos recursos necessários ou mesmo estar em uma sociedade onde haja mecanismos de controle e punição de violência, por exemplo, esses genes ficam inativos ou algo assim. Mas havendo uma ruptura da ordem social, falta de recursos e sem recio de punição legal, muitas pessoas deixaram aflorar seus instintos mais bizarros.
Sinceramente, fiquei sem palavras… Quando ouço falar de estupros deforma tão banal acontecendo não só em países em guerra, como na violência cotidiana… fico enfurecido… mas o pior é pensar que numa situação de sobrevivência dessas, você escutar alguem praticando esta ou outros atos de violencia e não poder fazer nada, acho que esta sensação é pior ainda do que a de tirar uma vida.
Que texto fantástico em!!! um puta tapa na cara!
Essa questão de estar em um grupo para sobreviver sempre me atormenta… pq sei q é praticamente regra. E em grupo várias coisas ruins acontecem, dependendo do líder pode te levar a ruína de todas as formas.
Ir para o mato e se esconder, as vezes não é uma opção, ainda mais a longo prazo…. mas acredito ser mais sábio já ter um grupo formado, e para onde ir. Escolher como destino um mato distante e que lá tenha recursos, é interessante, e tem q estar bem armado para defender e com planos B, C e D se tiver q sair de lá.
Nesse caso do Selco, eu não me recordo, ele não teve como sair da cidade?
Acredito q a melhor opção é a fuga para território vizinho… como o sargento que vc entrevistou disse: ou você foge ou fica e luta pelo seu país. Deu a entender que a opção de ficar seria a pior.
Grato mais um vez, abs
O maior problema é saber quando é a melhor hora para evadir. Seria melhor sair mais cedo antes que tudo fique tumultuado, porem como temos nossas obrigações e compromissos nas cidades, e sem informações 100% confiáveis de que algo extremo esteja realmente ocorrendo ficamos sem noção que é chegada a hora de largar tudo, pelo que vc lutou uma vida toda para conquistar, e fugir… Deixar para sair depois que o caos tiver se instalado e chegar em segurança ao local do refúgio é outra complicação!
Quem vive a violência urbana brasileira dos dias de hoje não se choca facilmente com as experiências da guerra moderna, estamos acostumados e só nos damos conta quando ela acontece conosco, uma falta de visão lamentável. Vi os saques aqui em uma cidade próxima na última greve da polícia, vejo as pessoas correndo e se atropelando para pegar água, brigas na fila do SUS, etc. a violência é uma característica humana que aflora no desespero de pessoas comuns, não se esqueçam. Este texto é para ser guardado na mente.
Concordo, o ser humano trás com sigo a disposição para a violência como um traço característico da espécie humana, basta a motivação para que ela aflore, alguns tem mais disposição e facilidade para abraçar a violência, outros por vários motivos já tem menas inclinação a isto porem quando a circunstâncias assim impõem ambos os tipos mais cedo ou mais trade mostram quem realmente são!
Eu nasci em África-Luanda e tb observei coisas horríveis, desde camiões com mortos empilhados uns nos outros e serem depois enterrados em valas comuns. Melicias baleando carros que passavam, pessoas com golpes de catanadas, facadas algumas esventradas; ainda recordo dos gritos da família do meu vizinho que foi baleado de raspão na barriga, de terem desarmado grande parte da população branca. Lembro de terem entrado na casa do meu avô e de lhe apontarem a arma á cabeça e me dizerem que o matavam se eu não falasse onde estava a arma dele! Felizmente já tinha sido instruído para isso caso isso acontecesse. Mudamos de casa 3 x debaixo de fogo, numa delas voltamos para trás para apanhar algumas coisas e a minha mãe entrou em pânico, paralisou sem saber o que recolher. Nesse dia o meu pai colocou na minha mão uma 6,35mm e deu ao meu irmão um spray que cegava caso se aproximassem de nós para nos fazer mal. Estivemos 15 dias debaixo de fogo a viver 6 pessoas numa casa de banho porque era a dependência que se encontrava mais protegida das balas, recordo de uma noite acordar e ir vês á janela, o céu estava tracejado de balas luminosas e clarões. Valeu-nos a minha mãe ser precavida em mantimentos e ser muito boa a fazer pão: mas ia-mos os 5 para uma fila ás cinco da manhã para ter acesso a cinco pães cada um e com tiroteio a aproximadamente 3 a 5 Km. Ter dinheiro e não haver nada para comprar. Viemos para Portugal num C130 da Suisse Air force, uma viagem de 14 horas que fez escala na Nigéria, Apanhamos uma tempestade o que causou muita turbulência no voo – um avião que estava apenas preparado com cintas para tropas aerotransportadas e macas, sem conforto algum. Cheguei a um País frio pra caramba sem roupa adequada para o efeito onde agora iria sofrer o estigma de retornado; que quanto a mim eu era mais um refugiado ! pq não tinha nascido nesse país, mas as pessoas não nos receberam assim tão bem. As minhas brincadeiras após isso era só voltadas para a guerra. ainda hoje me abaixo quando rebentam foguetes nas festas sem eu contar. O meu irmão ainda hoje acorda sobressaltado por mais de leve que o queiramos acordar!
Porém hoje estou de volta ao meu País ANGOLA, onde trabalho, onde me vêem como luso descendente ou melhor nem isso pq os meus pais eram portugueses, e sou olhado por alguns de forma racista. Mas bola pra frente. Estou vivo e de boa saúde
Lamento que tb tenhas vivido isso.
Como dizem alguns: “O que não nos mata, torna-nos mais fortes”
Obrigado pelo depoimento cara, mas eu fico pensando como seria horrivel algo desse tipo e sem lugar para ser pelo menos refugiado… nosso mundo não é um lugar bom 😦
Obrigado Júlio pelo artigo!!!
Excelente, obrigado pela tradução Júlio
Bastante pesado o texto mas é a realidade da guerra.