SHTF School: Equipamentos táticos versus habilidades de sobrevivência

Ser capaz de lutar e sobreviver quando acontecer uma crise significa muitas coisas. É claro que isso significa estar treinado, bem equipado e pronto para lutar.

Mas há alguns mal-entendidos (assim como com muitas outras coisas quando se trata de crises e sobrevivência em geral) quando se trata do que você supostamente terá com você enquanto estará se movendo através de uma área perigosa em que você pode ter que lutar por sua sobrevivência.

Há inúmeras discussões em fóruns sobre o que ter em mãos, uma AR ou AK, e o que é melhor, com que arma você tem mais chance de vencer, matar, sobreviver, que tipo de pistola, calibre, etc.Por exemplo, eu usei os dois fuzis (AR anos mais tarde, depois do meu tempo na guerra) e eu prefiro AK, mas é melhor opção para mim. Talvez não para você por causa de muitas razões.

E claro, a maioria dessas discussões não faz muito sentido, na verdade, as pessoas discutem coisas erradas por lá. É parecido com um alpinista que discute cada pequeno detalhe do equipamento de escalada antes de ir até a sua primeira montanha. Depois disso, ele percebe que todas as cadeirinhas funcionam se ele sentar corretamente.

O problema é que hoje são as pessoas que dizem o que é bom para você e não o que realmente é bom para você, que faz sentido em você ter.

O que você veste em uma crise pode facilmente colocá-lo em perigo. Faz sentido usar coisas que podem ajudá-lo quando se trata de combate mas ao mesmo tempo que não lhe dê aparência de soldado das forças especiais. Lembre-se também que por ter coisas que pareçam interessantes (caras, boas, de qualidade) você se tornará interessante, e isso é ruim.

Por exemplo, existem tipo literalmente centenas de coldres de pistola. Para um cenário de crise eu prefiro o antigo coldre de pistola de couro soviético. Com toda a sujeira, pulos, agachamentos, rastejos, chuva, etc… O uso dele faz sentido para mim. Não é nada extravagante, eu não pareço muito “tático”, mas o tempo provou que o modelo funciona.

Pense em correr alguns quilômetros enquanto alguém está atirando em você. É algo muito difícil e desgastante para seu corpo. Se você arrastar um monte de coisas extravagantes contigo, você vai acabar provavelmente morto.

Há muito mais sentido pensar primeiro sobre o tipo de calçado que você vai usar e só depois ler sobre o que é mais mortal, uma AK ou um AR. Ambos vão matar se estiverem em boas mãos, mas se você estiver usando o tipo errado de botas você não vai ser capaz de operar com plena capacidade.

Eu sempre preferi ideia de ser mais manobrável do que ter material extra comigo enquanto me movimento através terreno urbano em cenário de crise.

Muitas pessoas esquecem facilmente o fato de que a luta em um ambiente urbano é algo dinâmico, em outras palavras, há muita atividade física envolvida. Enquanto você está tentando atirar em alguém outros caras estão tentando atirar em você também.

Duas predições minhas aqui:

Muitas pessoas tem mochilas de fuga (BoB) que não conseguem carregar por dez horas sólidas enquanto escapando da cidade e muitas pessoas não prestam atenção ao condicionamento físico, acham que saber atirar bem já lhes dá uma grande vantagem na troca de tiros.

Algumas pessoas não têm como melhorar o condicionamento pois são mais velhas ou possuem alguma deficiência, mas essas pessoas têm de saber substituir sua fraqueza física pela inteligência. Elas precisam prestar muito mais atenção as informações importantes, pois assim podem se mover no tempo certo, sem pressa. Elas têm de estar mais atentas e mesmo que pareça desnecessário, ir embora antes de todo mundo.

E elas PRECISAM ter suprimentos escondidos no caminho, assim terão a opção de não carregar nada e irem se “recarregando” nessas paradas. Quero dizer, enquanto outros possuem uma rota de fuga, duas rotas alternativas e cinco locais com suprimentos escondidos, os mais velhos ou com dificuldades precisam ter uma rota de fuga, cinco rotas alternativas e quinze locais de suprimentos escondidos pelo caminho.

Eu vi muitas vezes pessoas jogarem fora coisas preciosas no meio de um combate simplesmente porque eles estavam muito lentos, muito pesados para se locomover.

Ter uma pistola e uma AK serviu perfeitamente para mim naquele período e talvez funcione novamente, mas a parte importante é que eu estou pronto para adotar novas idéias, coisas, equipamentos e armas a qualquer momento que eu veja que algo funcionará melhor para mim. Eu pratico minhas habilidades agora e não fico obsessivo por equipamentos.

Não seja morto porquê você teimou em comprar aquela coisa que outra pessoa disse que funcionaria perfeitamente para você.

E claro, pense que “coisas pequenas” farão grande diferença.

Coisas como botas, calças e bandanas apropriadas podem fazer muita diferença. Uma capa de chuva pode significar muito se você for forçado a usar uma casa destruída sem telhado como abrigo durante a chuva.

Sempre que eu encontro discussões do tipo “Equipamento tático – o que é melhor?” Eu lembro de coisas como a bandoleira que meu vizinho tinha para sua pistola feito com elásticos ou o coldre para facas de cozinha feitas com capas de livro e coisas semelhantes.

Não é que precisemos voltar para a idade da pedra com equipamento e sermos maus. É sobre o fato de que pessoas com habilidades para se adaptar têm mais chances de sobreviver. Não é que seja errado escolher equipamentos legais, é sobre a possibilidade de um vovô de setenta anos com um rifle enferrujado matar você não importando o que você estiver usando.

Então basicamente um simples lembrete é: Passe mais tempo aprendendo habilidades ou refinando conhecimentos do que pesquisando e comprando equipamentos.

Minha frase favorita em latim é:

“Omnia mea mecum porto”

“Tudo o que é meu eu carrego comigo”

Traduzido e adaptado do site SHTF School.

21 Comentários

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  • Pingback: 10 HABILIDADES DE SOBREVIVENCIA -

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  • muito boas ideia abriu minha mente obrigado !!!

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  • Luiz Rodrigo

    Eu sempre me questionei sobre o que levar numa “mochila de fuga”. Com este texto, eu sei que parte da resposta é: o mínimo necessário menos a metade.

  • Isso é uma coisa que estudo faz algum tempo, não tem como passar desapercebido em uma crise, o jeito e sair dos grandes centros urbanos sem que ninguém perceba. Estudo como os militares dos EUA andam em áreas de conflito, e o jeito seria mais ou menos igual a eles, mas teria de ser a noite, dez horas de caminhada onde moro além de sair de minha cidade me da uma bela distância dela.

  • Bem colegas, esse é o meu primeiro post. Tenho 110 Kgs, apesar de estar apenas ligeiramente acima do peso. Tenho treinamento avançado de arte marcial Específica de guerra (WuShu Mao) que nem pode mais ser ensinado hoje como fui ensinado a 20 anos atrás, atiro muito bem com revolver ou pistola e creio ser um grey man, porém, Sinceramente, depois de acompanhar o site por Bastante tempo, ter visto Todos os vídeos do Júlio, do Batata e mais de centas horas de escotismo, praticando de Tudo e ler extensivamente sobre as possibilidades reais de SHTF atuais, nesse meu primeiro post eu afirmo que, nossa maior preocupação Não é equipamento, Não é ser ou não Grey nem estocar alimentos.
    Nossa preocupação Primeira deve ser Como poderemos ser “atacados” de forma que normalmente não poderíamos nos defender, como por exemplo, com o HAARP ou os aviões “teco-teco” que passam deixando traços químicos no ar.
    Se um dia Realmente as pedras guia da Geórgia estiverem certas e resolverem deixar 10% da população viva para facilitar o controle e aumentar exponencialmente o poder de alguns, a guerra civil ou a situação onde armas de fogo ou fome seriam nossa maior preocupação seria um Sonho e Nada poderemos fazer e somente “Agartha” seria segura, hehehe.
    (Podem me chamar de louco, mas até Agartha já foi cogitada por mim como rota de fuga, assim como Já a usam a pelo menos Quarenta anos.
    Existem três entradas no Brasil, mas isso não vem ao caso.)
    Faço o que posso e Sinceramente espero que a desgraça planejada pelo FEMA e cia. Limitada para todos nós seja “apenas” um caso de preocupação com “equipamentos” e “comida”.
    Einstein disse uma vez:
    “Não sei quais armas serão usadas na terceira guerra mundial mas, na Quarta serão paus e pedras”.
    Fiquem com Deus.

  • Jean Steeler

    Existe um conceito chamado de “Gray Man Concept”. Eu particularmente acho extremamente vital tal conceito. Passar despercebido é uma arte que lhe mantém vivo, independentemente de você estar carregando ou não qualquer tipo de equipamento.

  • Vemos muito disso em fóruns de Sobrevivencialismo , pessoas fazem horas e horas de postagens sobre facas, mochilas , barracas importadas , não sabem rastrear em mata, não sabem nadar, não conhecem sequer as plantas venenosas da sua região !

    Maior prova disso é o “endeusamento” das lanternas potentes , eu quero mesmo usar uma lanterna dessas numa situação de fuga ? Ou estamos esquecendo que a luz que abre o meu caminho tbm serve para que o outro me localize !

    Grande texto ! Parabéns

    • Fala Pagu,

      Exatamente. Algumas vezes as pessoas acham que o equipamento salva, e definitivamente não é assim. Hora ou outra tudo quebra e o bonitão fica perdido.

      Abraços.

  • Tipo aqueles americanos de 150kg que montam uma BOB de 30kg e levam 1 rifle, 1 shotgun e 1 pistola. Caminham 2 quadras, tem um infarto do miocárdio e morrem.

    Sua capacidade de sobrevivência está diretamente ligada a sua resiliência, ou seja, a capacidade que você tem de contornar dificuldade e se adaptar ao ambiente.

  • “Eu pratico minhas habilidades agora e não fico obsessivo por equipamentos.”

    Essa frase do Selco resumiu o texto e, inclusive, a temática Sobrevivencialismo!

    Em algum dia o abrigo ficará desprotegido, os suprimentos se esgotarão, a munição acabará, a faca se quebrará… Nesse momento que as habilidades do Sobrevivencialista que se mostrarão realmente relevantes 😉

  • Como dito no texto, realmente é mais lógico tentar passar despercebido e evitar combates desnecessários do que parecer um G.I. Joe e se alvejado de todos os lados porque querem ficar com seus equipamentos de ponta.
    Passar por despercebido ou ser um alvo menos interessante já me pouparam de ser vítima de um assalto, e numa situação SHTF, ser “invisível”, rápido e sorrateiro me parece a escolha mais eficaz para me livrar dos perigos, principalmente na cidade grande.

  • Como sempre uma traduçao excelente dos textos do Selco…
    Esse artigo traz a tona uma discussao que eu sempre levanto qdo vou comprar algum material pras minhas preparaçoes: vale a pena?eu consigo adaptar outro que ja tenho pra mesma funçao??posso investir esse dinheiro em outra coisa mais necessaria???
    Sao questoes simples e que no fim das contas farao uma diferença enorme, como no caso citado…
    Nao parecer “tatico” nao quer dizer que vc nao seja “tatico”.

    • Fala Michael!

      Eu concordo plenamente. Nós que não somos ricos (infelizmente) temos a vantagem de analisar cada compra para ver a real necessidade delas.

      Abraços!

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