Epidemias e vírus: Uma entrevista com Jason Tetro

Navegando na internet encontrei uma entrevista com Jason Tetro, um renomado especialista em vírus e epidemias. Nesta, ele discute sobre a real possibilidade de uma pandemia nos atingir e o que podemos fazer para prevenir tal situação. Segue abaixo a entrevista traduzida:

 Você pode nos contar um pouco sobre você e sua experiência com epidemias?

Sou microbiologista com mais de vinte e cinco anos de experiência em várias áreas de microbiologia e pesquisa em saúde humana. Hoje sou coordenador de dois centros na universidade de Ottawa e o Centro de Pesquisa sobre Microbiologia ambiental, eu também sou conhecido como o “Cara dos germes” e promovo a higiene e saúde global.

Em Ottawa, nosso trabalho foca na natureza dos patogênicos no ambiente e no hospedeiro, levando em conta a evolução e formas de contaminação, para assim podermos controlar e prevenir esses. Com o devido respeito às epidemias, nós publicamos artigos sobre a evolução da SARS (a epidemia que não aconteceu) e a infame H5N1, mais especificamente, porque essas nunca acabaram causando a epidemia que foi prevista.

 Qual a possibilidade de vermos uma grande epidemia em um futuro próximo?

Por definição, uma epidemia é um grande “porém” no contexto mundial, eu acredito que o mundo está se tornando cada vez mais vulnerável a ver um evento de grandes proporções. É um processo que é muito previsto, pois verificamos o aumento da migração de meios rurais para urbanos, aumentando o potencial para um evento epidêmico. E, graças ao aumento da densidade de população humana e animal, os patogênicos podem se espalhar em um ambiente localizado e evoluir, causando maiores problemas. Finalmente, viajando da área localizada, o patogênico pode então alcançar escala global. Esse fato é particularmente importante, pois se pensarmos acerca de 100 anos atrás, quando tivemos a epidemia de 1918, poderia demorar meses para o patogênico circunavegar o globo. Hoje, isso pode ser feito em um dia. Hoje temos mais indivíduos viajando do que nunca (cerca de 1,4 bilhões de viajantes aéreos por ano) e isso faz com que haja uma contaminação a nível global mais rápida do que já foi visto em toda história.

 Quais são as maiores ameaças que você pode ver no horizonte?

A maioria das epidemias acontecem devido a evolução de um patogênico animal para um patogênico humano. Então, a real ameaça à humanidade é o contínuo compartilhamento de espaços entre os animais que carregam os vírus, como galinhas, porcos e humanos. Em caso de muitos patogênicos “quase epidêmicos”, como a Influenza H5N1 e a epidemia do H1N1, os casos foram quase todos associados ao contato próximo do indivíduo com o animal infectado.

Então, por meio do processo de evolução, o patogênico pode se adaptar ao hospedeiro humano e então se espalhar sem a necessidade de um animal. A H5N1 ainda tem de conseguir fazer esta adaptação, enquanto a H1N1 fez esta transição com sucesso e foi à epidemia.

Se um grande desastre epidêmico acontecer, como seria?

Eu acho que se nós olharmos para a última década, existem duas possibilidades principais para uma epidemia.

A primeira, representada pela H1N1, pode liderar um grande número de infecções com uma taxa de mortalidade levemente alta. Normalmente a Influenza tem uma taxa de mortalidade de cerca de 0.1%. A mortalidade da H1N1 epidêmica foi similar, se não mais baixa. Quando a epidemia acabou, houve algum impacto em escala global mas para a maioria, o mundo foi capaz de seguir em frente.

A segunda, representada pela SARS, seria muito pior. Com a mortalidade entre 15 – 20%, o vírus não apenas se espalharia como fogo, mas também mataria em grande número. Em regiões afetadas, unidades de tratamento intensivo nos hospitais estariam com a capacidade máxima e muitos deles seriam fechados. Saindo do foco da saúde, viajar para essas cidades seria arriscado e a economia sofreria durante anos por essa pausa de comércio. Como resultado de um rápido esforço global, a SARS foi efetivamente parada antes de se tornar global, entretanto, o impacto pode ser extrapolado para se ter uma idéia do que poderia acontecer no evento de uma epidemia seguindo este caminho.

 Você pode nos dar dados reais de como funciona o tempo de vida de uma epidemia?

Para ser honesto, não. Enquanto é fácil para Hollywood inventar linhas do tempo potenciais para uma epidemia, a realidade é que existem diversos fatores para serem levados em consideração antes de ter um palpite da velocidade que uma epidemia pode se espalhar. Estes fatores incluem:

  1. A habilidade do vírus de infectar;
  2. Quão letal o vírus é para humanos;
  3. A habilidade do vírus de se espalhar;
  4. Quão fácil é matar o vírus;
  5. O quanto as pessoas vão ouvir aos avisos e conselhos dados para prevenir que a epidemia tome o controle.

Por exemplo, quase todo mundo acredita que o vírus Ebola faria uma grande epidemia. Infecta rapidamente e é bastante letal, entretanto, é fácil de ser morto e não é fácil de se contaminar com o vírus a não ser que você tenha contato direto com o indivíduo infectado. E, por ser letal, quando a infecção é encontrada, as pessoas tendem a “correr por suas vidas” e tomariam rapidamente todas as precauções para evitar serem contaminadas. Logo, nesse sentido, não é um candidato bom para uma epidemia, e seu tempo de vida seria bem curto.

Como vimos na epidemia da H1N1, o vírus tinha uma infecção relativamente fácil, mesmo não sendo muito letal. Se espalhou por humanos efetivamente mas era simples de se matar. A real razão pela qual a epidemia teve um bom tempo de vida foi devido à falta de cuidados por parte da população, que não houvia as recomendações do governo e agia como se nada estivesse errado. Foi assim até que algumas mortes ocorreram em outubro de 2009, onde o mundo percebeu a gravidade da situação. Naquele ponto o vírus havia se espalhado pelo mundo todo e teve de ser caçado, processo que durou cerca de dez meses até ser considerado morto.

Então, eu acho que o meio mais simples para estimar um tempo de vida para o vírus é comparar a letalidade e a hablidade que os humanos tem  para reagir as notícias sobre o vírus. Tenho certeza de que há uma possibilidade que levaria à um cenário cataclísmico, onde uma letalidade significante e falta de atenção à epidemia levariam a um tempo de vida elevado, mas eu não vi nada que possa ser qualificado para fazer isso… ainda.

 Existe alguma coisa que as pessoas podem fazer para se preparar?

O lema dos escoteiros é “Sempre Alerta”, e ainda bem, será fácil de ser seguido quando falamos de uma epidemia. Para iniciantes, se você vive em um país desenvolvido, existe pouca chance de que a epidemia se iniciará na sua rua. Irá acontecer em um país em desenvolvimento ou em um país onde há baixos padrões de higienes no contato homem/animal. Se um patogênico iniciar a se espalhar como epidemia, estará nos jornais, então, preste atenção a eles. Se existe algum sinal de uma epidemia vindo, começe a procurar o que o país, estado e autoridades locais estão fazendo para reagir contra ele. Os conselhos virão bem antes do que o vírus e as instruções em como se proteger melhor são fornecidas de forma simples.

Banner explicativo fornecido na época da pandemia

 Como uma pessoa normal pode aumentar as chances de sobreviver?

No improvável cenário de que uma epidemia aconteça na sua área local, existem algumas simples regras a serem seguidas:

  1. Distanciamento social é a chave – se alguém parece estar infectado, esteja a pelo menos 3 metros de distância dele e faça o possível para prevenir qualquer tipo de contato próximo.
  2. Mantenha-se higiênico – Lavar as mãos é obviamente crítico e um simples produto de limpeza irá matar quase todos os patogênicos se tiver entre 62 – 75% de alcool e se for usado por cerca de 30 segundos. Higiene pessoal também é importante, principalmente para mostrar que você não está infectado e não é um alvo para isolamento social.
  3. Fique atento à sua condição – se você começar a se sentir doente por qualquer razão, consulte alguma forma de acoselhamento médico, mas como aprendido, os centros de atenção à infectados pela epidemia serão inevitavelmente os hospitais, logo, devem ser evitados a não ser que haja uma preocupação séria.
  4. Obedeça às autoridades locais – Eles são experientes que determinaram as melhores práticas para manter você vivo. Ouça o que eles tem a dizer e tenha certeza de fazer exatamente como pedido.
Fonte: Germguy.
Gostaríamos de saber a opinião de vocês acerca desse assunto tão pouco discutido de forma real, visto que grande parte de nossas percepções acerca de acontecimentos epidêmicos são formadas por filmes hollywoodianos.
Até.

3 Comentários

  • Aqui no Brasil acho difícil confiar nas autoridades locais ..
    Tanto que quando tem enchentes ou coisas do tipo, é dias para eles conseguirem fazer alguma coisa.
    Agora imagine para uma epidemia?
    No mais concordo com as dicas passadas.
    Acho que a chave é evitar a infecção, pois depois disso pode ser necessário ir para um hospital, e na situação do Brasil é muito facil voltar pior do que foi, e ainda passar a doença para outros.
    Abraços;

  • Sei não, este cientista dá muita ênfase na idéia de escutarmos o governo. Uma população cordeirinha que faz tudo o que o governo manda é o sonho de qualquer aspirante a engenheiro social!

    • Neste ponto concordo com você Rodrigo. Creio que principalmente no Brasil as autoridades muitas vezes não agem da maneira correta por falta de recursos ou informação sobre a crise em ocorrência. Confiar minha vida nos mesmos que deixam milhares morrerem em hospitais território a fora não parece ser uma boa idéia.

      Mas, creio que na realidade americana e com a fala direcionada ao público em geral, podemos obter várias informações interessantes.

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