DIA DE CAÇA – Um conto sobrevivencialista

Vespas são insetos curiosos. Não por só as fêmeas terem ferrão, ou por serem predadoras e parasitas ao mesmo tempo.

Vespas fazem escolhas.

As vespas podem ser divididas entre sociais e solitárias. As solitárias constroem seus ninhos com lama, geralmente em lugares protegidos e escondidos. Se um dia você observar aqueles canudinhos feitos com lama na sua parede, ou no seu telhado, pode apostar que foi feito por uma vespa solitária.

Outro detalhe sobre as vespas, é que as sociais, são medrosas. Se você colocar fumaça em uma colmeia, elas abandonam seus filhotes e reconstroem em outro lugar. Faça o mesmo com uma solitária, e terá a ferroada mais dolorida que ela puder te presentear.

DIA DE CAÇA

Assaltar uma casa não é algo simples, precisa ser bem pensado e planejado; é necessário um grupo grande com vigias e esquemas para cortar a energia. Balela de filmes. Aqui, eu assalto pelo menos duas casas por dia, sozinho, sem malabares de filmes nem nada. Trabalhei como auxiliar de chaveiro durante seis meses no centro da cidade, e aprendi a abrir qualquer porta, até aquelas modernas com impressão digital.

Costumo caminhar de dia, e escolher uma boa casa. Coloco minhas roupas de corrida, e caminho com meus fones de ouvido pelos bairros nobres. Um adendo sobre o assalto. Prefira casas com mulheres sozinhas. Casas com homens são problemáticas. Homens tendem a ter armas e outros brinquedos perigosos em casa, como balestras, canivetes, estrelas ninja e espadas penduradas na parede. Casas com mulheres não, casas com mulheres tendem a ter objetos abstratos que custam milhares de reais nas paredes e cômodas das casas.

Dica de ouro: aproveite a liberdade conjugal e assalte mulheres divorciadas.

Já estou caminhando nesse bairro há um bom tempo, assim, as pessoas se acostumam com a minha imagem e tendem a imaginar que sou um vizinho.

A casa que eu escolhi para essa noite, é perfeita. É a última casa de uma rua sem saída, com os fundos da casa saindo para o bosque da cidade. Deve ter custado caro comprar uma casa assim. A casa é de dois andares, tem uma parede lateral de vidro e garagem para uns quatro ou cinco carros. Até uns meses atrás haviam dois carros, um do tipo perua e outro mais esportivo. Hoje, só a perua entra e sai. Significa o que?

D-i-v-ó-r-c-i-o! – Com todas as letras as. Aquele melodrama de se entupir de vinho ruim e comer patê de madrugada, de dormir no sofá e esquecer que existem produtos de limpeza na cozinha. Já assaltei milhares de casas de recém divorciadas, e são muito fáceis de assaltar. As mulheres se amedrontam, você leva tudo, e só no outro dia elas ligam para a polícia, por causa do “trauma” que o estresse dá.

21:59PM

Estaciono meu carro na esquina da casa, entre as dez e três da manhã, mulheres recém divorciadas as vezes saem para chorar em barzinhos, e eu só preciso de 10 minutos mesmo…

23:00PM

Bem, pelo jeito essa vai ficar em casa. Agora que estou pensando melhor, a dona dessa casa não costuma sair muito.

03:12AM

Desço do carro e caminho calmamente até a frente da casa, paro, observo a rua e o lixo da casa, que era muito grande para uma mulher sozinha. Olho para os lados e caminho como se fosse um morador até a garagem da casa dela.

Destravo o pino de segurança da porta automática da garagem, e a abro tranquila e silenciosamente; fecho e voilá, estou dentro da casa.

Vou até o relógio de luz, que fica na parede da garagem e desligo a energia, então abro a porta que dá acesso à casa e começo a observar a sala de estar.

Vou caminhando e olhando pelas cômodas e estantes, vi uma série de facas na parede, algo estranho para uma mulher que mora sozinha, então me deparo com um objeto diferente…

“O que é isso? Um walkie talkie?”

Quando eu coloquei as mãos naquilo, acendeu-se uma luz vermelha no aparelho e veio o som de um choro de criança, então escuto passos firmes no andar de cima, e me apresso para me esconder.

Me escondo entre a lareira e o sofá, e continuo alerta, escutando…

“Ah! Só me faltava essa, acabou a luz! Calma meu amor… Mamãe vai pegar a mamadeira”

A mulher desce pisando firme em direção à cozinha, abre a geladeira e, pela luz da geladeira posso ver que é uma mulher jovem, bonita, bem bonita aliás… Mas, luz da geladeira?

“Puts, a fiação da casa é independente…”

Mas acho que ela não se tocou disso, e subiu as escadas pisando firme. Nessa situação, serei obrigado a rende-la, vai ser mais fácil e menos estressante pra mim.

Saco meu revolver e subo as escadas. A casa é realmente grande, um lindo corredor com vários quadros, troféus e medalhas.

Me aproximo da porta do quarto da criança, e escuto um pequeno canto de ninar, então apareço subitamente!

“Isso é um assalto!”

A mulher me olha, fica meio pálida e gagueja…

“M…Moço, co… como entrou aqui? Er… Pode levar o que quiser, só não machuque minha criança”

Era o que eu esperava ouvir. Penso então em trancar as duas no quarto do bebê, mas acho melhor separa-las, e levar a mulher ao porão.

“Você, se levanta daí e vem comigo!”

Ela começa a chorar, mas se eu a separar do bebê, ela não vai fazer nada por medo que eu machuque a criança.

“NÃO! NÃO VOU ME SEPARAR DA MINHA CRIANÇA!”

Engatilho a arma e coloco na cabeça do bebê.

“Sim, você vai.”

Ela coloca a criança com cuidado no berço e começa a caminhar pelo corredor. Chegando nas escadas, ela me surpreende e me puxa no sentido da escadaria.

Caí por cerca de dois lances de escada, aquilo doeu demais.

“SUA VADIA, VOU MATAR VOCÊ!”

Me levanto com dificuldade, acho que quebrei alguma costela. Então escuto uma porta se fechar com força.

“Essa vadia se escondeu no quarto da criança”

Subo as escadas com esforço e dificuldade, olho para o quarto do casal e a porta estava aberta, o banheiro à frente e o quarto do bebê estavam fechados.

“Que previsível”

Coloco o cano da arma contra a maçaneta do banheiro e atiro. Um estampido oco me deixa um pouco atordoado. Abro o banheiro, e nada da mulher.

“Já sei onde você está! Se sair, eu deixo o bebê viver!”

Sigo caminhando para o quarto do bebê, então ouço um choro abafado, e uma outra voz…

“shh… quietinho amor…”

Abro a porta do quarto com violência, mas nem a mãe nem o bebê estavam lá. Dentro do berço, um daqueles walkie talkies que eu vi na sala.

“Vadia…”

Então sinto um baque seco na nuca, e tudo se escurece.

Acordo zonzo com o despertador do meu relógio de pulso. Estou sentado e amarrado em um tipo de cano. É um lugar fechado, sem janelas, com muitas latas de comida e galões de água estocados visivelmente na parede à minha frente. Há algumas armas penduradas na parede lateral, o lugar parece uma espécie de abrigo, ou prisão.

Com o barulho, a mulher vem me ver.

“Então já acordou?”

“O… O que está acontecendo aqui?”

Ela se vira e sobe as escadas.

12:10PM

Acordo novamente, agora estou deitado no chão, com minhas mãos amarradas no acima da minha cabeça, e minhas pernas presas em outro cano. Não sei como uma mulher daquele tamanho aprendeu a fazer nós daquela forma, mas estava doendo. Então a mulher se aproxima lentamente com uma faca curva, parecendo uma garra e diz:

“Você nunca mais vai ameaçar meu filho”.

Conto escrito por Lucas Eduardo.


Se você quiser ver mais contos como esses aqui no portal nos avise nos comentários! Apesar do tema não trazer conteúdos ou instruções técnicas, com certeza pode levantar muitas discussões.

Até.

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