SHTF School: Top 5 surpresas em um cenário de guerra urbana

Eu recentemente realizei o meu mais novo curso chamado de “uma milha em meus sapatos”. Nele eu levo um pequeno grupo de estudantes para a cidade quem que eu sobrevivi a guerra e os levo para conhecer as realidades que eu encontrei. Muitas lições são aprendidas durante esse curso e aproximam os alunos da realidade de um cenário de crise.

Eu pensei que poderia compartilhar as “Top 5” surpresas que os estudantes enfrentaram, coisas que eles nunca haviam pensado antes mas agora tiveram de aceitar. Vamos lá.

1 – O quão “próximo” os combates serão

Esta foto foi tirada muito próxima da minha casa e era uma das linhas de frente do combate por algum tempo. Um lado estava nas casas da esquerda do beco e o inimigo estava do lado direito da rua… Isso parece INCRIVELMENTE perto (e é) mas fato é que haviam linhas de divisão até mais próximas que essa.

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Quando você coloca isso em perspectiva é possível começar a pensar sobre uma nova realidade: nada é estático e certo em uma crise. Um dia a casa do seu lado pode estar completamente segura, outro dia pode ter alguém dentro querendo te machucar. Você nunca ficará 100% certo do quão seguro são os seus arredores.

Este é o aspecto mais perigoso de uma crise urbana, você tem muitas pessoas em um espaço pequeno e terá uma alta demanda por recursos muito limitados porque o sistema já era.

Agora você adicione ao cálculo o fato de que muitas casas estarão destruídas e você perceberá que não há como garantir nada ou prever quais as intenções que cada pessoa a sua volta possui.

Isso é especialmente importante de se levar em consideração caso você esteja planejando sobreviver a uma crise urbana sozinho (teoria do lobo solitário). Sim, será muito difícil.

2 – O ‘inimigo” irá parecer e falar como você

 Eles podem inclusive ter sido amigos de infância, mas agora você está do “lado oposto”. A luta aqui era dividida por uma variedade enorme de razões: raça, religião, afiliação, família, política e uma mistura de tudo isso. Os “lados” estavam sempre mudando também. Quando você está lutando pela sobrevivência só existe uma denominação simples… Ele é o “inimigo”.

Ter pensamentos de que uma força estrangeira irá invadir seu país e que os combatentes vão se vestir, agir e falar de maneira diferente de você é a maioria das vezes uma fantasia, especialmente em países que não possuem histórico de invasão prévia.

Esse pode sim ser o caso, mas ainda assim o cenário causará muitos combates entre os habitantes locais também.

No final, tudo se trata de lutar contra aqueles que querem te machucar. O fato de você muitas vezes conhecer aqueles que querem te machucar só piora tudo. Não espere marcianos ou Russos, espere pessoas que agem, falam, se parecem como você e só querem sobreviver.

Novamente nós entramos no argumento de que você será forçado a lutar contra seus vizinhos e compatriotas por recursos.

3 – O quão “ocupado” era o dia durante a crise

Lutar pela sobrevivência é uma tarefa que toma o dia inteiro. Você está constantemente caçando, buscando, encontrando informações e olhando coisas. Tudo isso enquanto está altamente estressado e sob constante ameaça, além de estar faminto e sedento.

Não existe o “dia de folga” ou “intervalo”. Esta é a grande diferença entre um soldado e um civil na guerra, um soldado tem um trabalho para fazer e todas suas outras necessidades são supridas. Ele pode focar apenas no trabalho dele. Na guerra civil você (e seu grupo) precisará cobrir todas as tarefas durante todo o tempo…

Se você serviu o exército lá você possuía ordens diretas e não pensava em muitas coisas além disso. Você tinha a “retaguarda”. Seu trabalho era realizar tarefas enquanto outros cuidavam das outras áreas e no final todos terminavam o trabalho juntos.

Em uma crise você é a primeira unidade e a retaguarda. Se você cometer um erro e quebrar a sua perna não existirá evacuação médica. Se você não encontrar comida (ou qualquer outro recurso) não haverá serviço para fazer isso por você.

Este é um tempo difícil e o dia será focado apenas em “adquirir” coisas e terminar trabalhos.

Atirar em um inimigo pode parecer uma ideia divertida ou até romântica, mas talvez seja ainda mais romântico pensar como você irá gerenciar os detritos que você produz, tomar banho ou abaixar a febre dos seus filhos no meio da crise.

Você é tudo durante a crise pois o sistema simplesmente não existe.

4 – O nível de ameaça

Em uma crise praticamente tudo é uma ameaça para você. Sim, é fácil entender ameaças como atiradores, gangues, vizinhos bravos e semelhantes, mas entender a falta de comida, completa falta de higiene, o nível de contaminação, o risco de adoecer ou se machucar, ser capturado, conseguir informações, ser enganado e muitas, muitas outras ameaças é bem mais difícil.

Apenas comece a imaginar todos os recursos que você toma como garantidos (gasolina, eletricidade, água, lojas, sistemas de emergência) serem eliminados e você simplesmente não saber quando eles retornarão. Então imagine a pior pessoa que você já conheceu na vida, alguém que você nunca conseguiria confiar… Agora imagine que todos a sua volta são como essa pessoa. Imagine que todo lugar em que você sobe, pisa ou anda pode machucar você, tudo o que você toca tem potencial para fazer você ficar doente…Consegue pensar nisso? Se sim, talvez você esteja compreendendo ao menos 40% da realidade…

O nível de ameaça será um GRANDE choque para você no começo e, se sobreviver a ele, você entrará no real modo de sobrevivência.

Não importa o quão bem preparado você está, você passará por esse choque. Com uma boa preparação e com a mentalidade correta você conseguirá minimizar o impacto e fazê-lo ser mais curto… E este é o principal argumento para se preparar.

5- A realidade de defender/manter suas posses

Eu sei. Todos os pontos mencionados não te incomodam tanto, até porque você tem uma boa casa, muitos suprimentos e está pronto para lutar. Mas como o seu plano vai funcionar quando sua casa ou apartamento ficar parecida com essa?

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E o interior estiver assim?

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Todos aqueles que estiverem com bom condicionamento físico precisarão sair para procurar recursos. Como você irá proteger todas suas “coisas”? Quem irá proteger todas suas coisas?

E se um dia um grupo enorme chegar para perguntar como você tem se virado tão bem e quiser suas coisas? Imagine que o grupo é tão estruturado que negar seria o mesmo que aceitar a morte.

Ter o estado mental certo é a diferença entre defender algo e ser morto/ adaptar-se para sobreviver.Você precisa se adaptar a ideia de que talvez seja forçado a sobreviver com apenas suas habilidades. Você não sabe e nunca poderá ter certeza do que te espera em um cenário como esse.

Entenda que em uma crise todas as casas da cidade vão ficar assim ou pior. Na minha cidade até hoje você vê várias ainda neste estado. Elas só estão de pé porque foram feitas de pedra e concreto, as de madeira simplesmente queimaram até o chão.

Existe muitas, muitas coisas que foram percebidas e discutidas durante o curso, e eu quero dizer parabéns para todos que vieram com tamanho entusiamo e perguntando várias questões interessantes durante o curso.

Você pode passar 3 dias com o Selco enquanto conhece a cidade onde ele sobreviveu e todos os tipos de técnicas e recursos que ele teve à mão para manter-se vivo. Clique aqui para conhecer.

Texto traduzido e adaptado do blog SHTF School.

 

5 Comentários

  • Excelente texto! Pra quem assiste TWD é muito semelhante e fica até mais fácil você imaginar a situação, excetuando os Zumbis (é claro). Teremos que estar sempre alertas e preparados.

  • Eaí Julio quando vai conhecer a Bósnia?

  • Parabéns Júlio por mais esse conteúdo. Um texto q nos faz refletir mesmo em todas as questões de preparação. Porque como descrito local que você considera seguro pode não ser mais. Talvez tenha que escolher um lado para se manter vivo ou dividir as coisas quando não pode combater tantas pessoas.

  • Se achamos uma crise econômica ruim, o que pensar disso?! Quanto a ter inimigos que antes eram amigos e vizinhos, em uma situação de escassez de recursos, não é nada inimaginável! Basta ver nas empresas, na divisão de herança ou outra concorrência quanto aborrecimento, jogo sujo e brigas podem acontecer!

  • Hoje pela manhã eu estava pensando algo assim, e o quanto aquilo que achamos que somos ou que achamos que sabemos realmente somos ou sabemos, e a conclusão mais triste é que imaginamos que sabemos muito mais que sabemos e imaginamos que podemos fazer muito, mas muito mais do que podemos saber, onde se colocar a prova e testar é o único treinamento que vai provar o quanto podemos estar enganados sobre nos mesmos.

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