SHTF School: As novas gerações

 “A nossa geração está mais preparada para um apocalipse zumbi do que para uma hora sem eletricidade”

Eu sei que cada geração olha para os mais jovens que vem depois deles como “mais fracos” e “moles” do que eles, então um homem de 90 anos de idade com muita experiência de vida deve olhar para mim como se eu fosse um nada, afinal, minha infância foi recheada de pinball, videogames, computadores e filmes do Rambo em VHS enquanto ele cresceu sem energia elétrica ou TV e brincava com pedaços de pau.

Eu provavelmente vou me encontrar nesse mesmo processo, pois eu estava no meio de uma guerra procurando por abrigo e comida quando era mais jovem enquanto hoje os que estão na faixa de idade que eu estava procuram pelos melhores ângulos do selfie deles…

Aqui na minha região (Sérvia) recentemente as eleições foram finalizadas. Eu acredito que quando a confrontação entre dois partidos fica mais acalorada os argumentos ficam cada vez menos lógicos e mais provocantes (e isso parece acontecer em todos os lugares).

De repente as pessoas falam mais de como um candidato se parece, como é sua vida sexual ou coisas semelhantes em vez de falar sobre sua agenda política, soluções para a nossa economia destruída ou como evitar que as pessoas continuem decidindo sair do país.

Isso significa que a raiva e o ódio estão sendo usados pelos dois lados, o que acaba por trazer muitas histórias da guerra e rumores sobre possíveis novas guerras.

É claro que existe uma grande quantidade de pessoas que não tem ideia de como uma guerra realmente se parece, mas eles gostam dos “tambores da batalha”, histórias de patriotismo, sacrifícios pela “tribo”.

De maneira direta, existem muitos jovens que vêem uma possível guerra como algo romântico ou nobre.

Haviam muitos desses no meu tempo, quando a guerra começou. Pessoas sem noção nenhuma sobre o que era violência e o que isso trás para as pessoas… Eu era um desses.

Eu perdi todas as minhas ilusões muito rapidamente quando as pessoas ao meu redor começaram a morrer, então palavras como nobreza, honra, vida e morte, amizade e outras começaram a ganhar um novo significado.

O ponto de tudo que escrevi acima é que quando uma nova crise acontecer ela será bem diferente de como foi há 25 anos atrás pois as coisas mudaram, mesmo em locais onde o tempo parece passar mais devagar.

Vamos checar algumas coisas coisas sobre a juventude hoje, com a possibilidade de que eu soe como um “velho rabugento” – coisa que não sou pois ainda não estou tão velho assim.

Como as coisas funcionam e diferenças entre as gerações

70 anos atrás

Meus avós cresceram em uma casa sem energia elétrica, no ambiente rural. Eles tinham gado, ovelhas e galinhas. Cultivavam sua própria comida e plantavam o próprio tabaco.

Viajar para ver um médico não era algo comum por algumas razões: Eles eram mais saudáveis, não precisavam ir ao médico por qualquer coisa, tinham suas próprias ervas medicinais e sim, médicos eram um luxo distante e caro.

Eles tinham armas, pois armas eram parte de suas vidas cotidianas. Eles caçavam.

Quando a Segunda Guerra Mundial meu ancestral esteve em um movimento de resistência “nas florestas”.

As histórias dele anos depois pareciam como contos de fadas para mim, histórias de caminhadas infinitas e lutas no meio de campos alemães. Histórias sobre lutas com baionetas por simplesmente não haver mais munição.

E não era só isso, havia também contos de como ele congelava na neve no meio da floresta pois não conseguiam iniciar fogo e como cortavam seus dedos necrosados com facas ou como os alemães simplesmente não levavam prisioneiros…

Ele sofreu de estresse pós-traumático até o dia de sua morte, além de se tornar um alcoólatra. Ele sobreviveu a uma guerra mundial mas deixou as histórias mais interessantes e horrendas de sobrevivência para ele.

Ele manteve uma metralhadora alemã escondida por mais de 40 anos depois que a guerra acabou, ele tinha uma pistola Luger até o dia que morreu, mesmo que isso fosse motivo para uma punição grave pela lei.

Ele não odiou os Alemães, mas ele também não queria ver filmes feitos por eles ou sequer ouvir o idioma.

30 anos atrás

Quando eu era uma criança, talvez 7 – 8 anos, meu pai começou a me levar para pescar. Nada demais, uma simples pescaria de peixes pequenos. Nós nem precisávamos destes peixes para comer, mas nos domingos nós sempre pegávamos alguns para limpar, cozinhar e comer.

Meu pai não era um pescador apaixonado, era apenas um pretexto para passar mais tempo com ele. Ele sequer sabia muito sobre pescaria e eu nunca aprendi sobre técnicas, tipos de equipamentos e etc.

Mas o que eu aprendi é que havia peixe ali e que era relativamente fácil de pegá-los de formas simples. Peixes podiam ser limpados, cozinhados e comidos.

Alguns dos procedimentos não eram muito agradáveis para uma criança, mas eu estava aprendendo como as coisas funcionam na natureza e na vida. Ali tinha peixe, se você pegar um, mate-o e coma.

E era isso. Nada de profundo.

Conforme eu fui crescendo tive de aprender a fazer pão, o básico de como cozinhar, arrumar coisas em casa e alguns primeiros socorros básicos. Além disso o sistema de ensino era organizado de forma que na escola primária nós tínhamos aulas sobre “defesa civil” onde aprendíamos o básico sobre forças invasoras (como o país era socialista, em caso de invasão a doutrina da “guerra total” exigia que todo cidadão se tornasse um soldado).

Havia serviço militar obrigatório para todos os homens, durante cerca de um ano. Você era um soldado por um ano e depois ficava nas reservas militares pelo resto de sua vida.

Por ter crescido desta forma eu ao menos tinha alguma ideia do que estava acontecendo durante a guerra, digo, eu sabia algumas coisas. Eu ainda estava completamente sobrecarregado com tudo que estava acontecendo ao meu redor: morte, sofrimento, tiroteios, violência…

Hoje

Quando eu sento em um café local hoje em dia eu vejo esta nova geração ao meu redor. Uma geração que é barulhenta e que são ótimos candidatos para serem ovelhas, gado ou munição de canhão, se assim preferir chamá-los.

A maior preocupação é ter um tipo de barba descolado ou para estar em um “estilo”. Ser popular é estar nos movimentos de direito dos animais, mas não porque se importam com os animais e sim porque é algo na moda.

A principal tarefa do ano é saber qual tipo de cueca o astro que eles seguem gosta mais de usar, que por acaso não conseguimos saber se é um homem ou mulher porque isso é legal, é tudo “misterioso e moderno”.

Nos últimos 20 anos o serviço obrigatório militar parou, em partes porque o custo era alto mas também porque foi uma maneira de tentar “pacificar” nossa sociedade. Para se ter a sua própria arma temos de passar por uma infinidade de burocracia e checagens. Em resumo, o sistema não quer que você possua uma arma.

Esta nova geração está ferrada quando a crise chegar e nós estaremos também, com eles.

A grande maioria não tem noção do que é caçar. Se você levar eles para pescar vão ficar traumatizados quando ver que precisamos matar o peixe para comer. Fazer um sanduíche é provavelmente a comida mais complicada que sabem preparar e por aí vai.

Eles podem pensar que a eletricidade e os serviços urbanos funcionam por uma espécie de milagre, em vez de compreender a complexidade técnica e frágil do sistema todo.

O conhecimento que eles possuem sobre crises e colapsos são aprendidos não por histórias reais, mas por seriados estilo “The Walking Dead”.

Se um apocalipse zumbi acontecer amanhã eles seriam completamente destruídos apenas por não possuírem internet.

E o que tudo isso quer dizer?

Nós fomos ensinados que o progresso é infinito. O mundo está indo para direções onde a violência, doenças e guerras serão coisas da história e de épocas “sombrias”.

Em um primeiro olhar faz completo sentido que meu avô soubesse qual tipo de casca de árvore ele poderia comer quando estava congelando no meio da neve na guerra e porque ele tinha uma arma ilegal até a sua morte. Do outro lado, hoje temos jovens que não são capazes de sobreviver a praticamente nada sem a ajuda do sistema.

Novas eras estão vindo, a era da ciência e das grandes conquistas em todos os campos.

Bla bla bla.

Nós na verdade vivemos em uma bolha que está cheia demais, que está sendo furada por mais e mais coisas como o terrorismo, crises econômicas, grandes imigrações, uma nova Guerra fria e novos tipos de doenças.

Um dia – muito em breve –  essa bolha vai estourar e esta nova geração terá duas escolhas: morrer em grandes números ou procurar por recursos da forma que parecer ‘mais fácil’ para eles, ou seja, tirando de outras pessoas.

Esse é o real apocalipse zumbi! Este número enorme de pessoas desesperadas vão exigir recursos de qualquer um que tenha as coisas que eles ‘precisem’. Nós sempre dizemos que o problema da sobrevivência urbana é a presença de pessoas. É muito importante que nós conheçamos os tipos de pessoas que vamos enfrentar durante os tempos difíceis que podem nos aguardar…

Estas são algumas observações sobre as nossas gerações atuais. Como sempre, adoraria ler seus comentários, visões e experiências. Por favor, envolva-se na discussão abaixo!

Texto traduzido e adaptado do blog SHTF School.

20 Comentários

  • Sobreviver fora do sistema num ambiente hostil exige conhecimento, prática, sorte e muito sacrifício. ter um instinto natural de sobrevivência pode ajudar e existem pessoas que o tem e conseguem apura-lo com a obtenção do conhecimento em várias áreas. Selco certamente é uma dessas pessoas com um instinto natural de sobrevivência e graças ás suas vivências e conhecimentos apreendidos ao longo da vida permitiu-lhe sobreviver num dos cenários mais complexos da sobrevivência e por essa razão o admiro bastante. Estou completamente de acordo com os comentários relativos à falta de preparação da nossa juventude em relação ao fim do sistema, vai ser um caos, vão morrer aos milhares, a crueldade e a violência que se vai assistir nos próximos 10/15 anos vai ser aterradora, a nossa sociedade irá regredir centenas e centenas de anos voltaremos aos instintos mais básicos da sobrevivência humana, e é claro só os mais aptos irão sobreviver e criar descendência mas a que preço…..
    Tentarei ser um sobrevivente…… alea jacta est

  • Mateus Baltazar

    Ótimo texto, ótima tradução!
    Obrigado e parabéns por o conteúdo!

  • Ótimo texto! Assistimos filmes, documentários, como plantar, matar, colher etc… neste ano 2017 iniciaremos nossa prática. Entendemos que o mundo mudou e temos que estar preparados. Infelizmente, nos chamam de loucos, porque preferimos a natureza ao shopping, preferimos uma fogueira a um forno de microondas, temos uma alimentação básica ao excesso… as gerações estão totalmente despreparadas para a realidade.

  • Além dos fatores elencados pelo excelente texto, verifico que há a falsa percepção de auto-suficiência. A crença de que tudo é possível de ser feito, dês de matar um tubarão a dentadas quanto lutar contra terroristas. Tal crença tem lastro nos empacotados televisivos. As verdades da televisão são digeridas facilmente enquanto o vivência dos mais velhos é posta de lado. É um sentimento de potência muito grande. E lamentável. A geração do Google não sabe buscar conhecimento em uma enciclopédia britânica, quanto mais exercer atividades manuais. Falar em matar e morrer é banal, mas ao ouvir os primeiros estampidos a reação é irracional e desesperada.

  • Muito bacana o texto mesmo. E realmente nossos avós e pais tinham maior preocupação de sobrevivência até mesmo pela falta de disponibilidade das coisas. Hoje temos tudo a mão que acabam nos deixando mais “confortáveis”. Ex: Avô da minha esposa até hoje ele guarda coisas que acha importante que poderão ser utilizadas em um rancho no fundo de casa tem coisa la de anos mais volte e meia precisamos desses recursos e recorremos a ele. Ele veio fugindo da guerra na Alemanha e qualquer item que ele acha ter serventia acaba guardando. Ele tem conhecimento fantástico de plantação e cultiva uma horta e arvores frutíferas como passa tempo. Hoje fisicamente ele é mais limitado realiza atividades mais devagar em um cenário de sobrevivência ele pode até não ser a pessoa forte e ágil para atividades mais pesadas porem com certeza ele é a pessoa que eu confiaria para administrarmos uma base que pudesse cultivar seus próprios alimentos e administrar e coleta de recursos.

    Finalizando concordo que a geração atual é mais acomodada e imediatista. Temos hoje muita informação porem pouco envolvimento. Essas situações no mundo que se agravam como crises econômicas, crises sociais e politicas, guerras e guerrilhas e situações climáticas, carência de recursos nos criam ponto de atenção. Observo que a atual geração não esta preparado para situações que nos cercam. Porem ainda temos tempo para preparar-se. o negócio é Desejar o melhor e estar preparado para o pior!

    Valeu pessoal!

  • “Stephen Hawking: Inteligência artificial pode destruir a humanidade” Usei essa chamada comum na internet pq nos dá uma possibilidade pouco explorada nos assuntos pertinentes ao sobrevivencialismo. Hoje em dia, somos facilmente monitorados – câmeras de vigilância por todo lado, imagens de satélite e drones de nossas casas, valores, produtos e locais de compras através de nossos cartões bancários, conversas por celular e, sobretudo, a internet com e-mails violáveis. faceboock, rastreamento de nossas pesquisas e sites visitados e como aqui, por exemplo, colhendo nossas opiniões, visão política, etc.! Se formos, de fato, ameaça e interesses poderosos, tudo o que expressamos aqui será vigiado. Então, a ideia de anonimato na internet é, de certo modo, ingênua. A NSA não deixa dúvidas disso! Portanto, nem acho necessário uma super IA controlando a humanidade, mas super-computadores recolhendo dados de todos os cidadãos, analisando seus atos e comportamentos e interferindo qdo necessário, mas a serviço de uma elite humana cada vez menor – dizem que 63 pessoas possuem poder financeiro equivalente a metade da população da Terra!
    Talvez o “fim da humanidade (livre) não se dê pela falta de energia elétrica ou da internet, mas pelo excesso desses recursos (e inexorável monitoramento) daqueles que se revoltem contra o sistema.

  • bando de babaca, nao to defendendo cantorzinho nenhum, mas é ridiculo julga o cara pela aparencia

  • Excelente texto, fiquei imaginando aqui como seria, em um eventual colapso geral do ocidente em caso de algum evento de grandes proporções, enfrentar uma verdadeira horda de pessoas vagando pelas cidades destruídas e sem as atuais facilidades proporcionadas pela energia elétrica e todos os demais itens dependente dessa força, com certeza, milhares se concentrarão em pequenos grupos em busca de recursos que não sabem produzir e utilizarão paus, pedras, vergalhões de aço e outras ferramentas como armas.

  • Desde criança sempre me interessei pelo assunto “sobrevivência”; e conforme os anos foram passando fui pesquisando mais sobre o assunto; sempre fui envolvido por filmes do tema e fazia/faço a análise: se isso acontecesse comigo, o que eu faria? Uma grande verdade do autor do texto já no final é que o apocalipse zumbi é real; e já está acontecendo. Quem já assistiu ao filme “Meu Namorado é um Zumbi” sabe do que estou falando. Apesar de ser um filme, e não se iludam com o título, ele traz a narrativa de uma sociedade que virou zumbi de uma hora pra outra, sem saber os reais motivos disso. “Se esbarram e são incapazes de pedir desculpas”; aquilo que vivemos hoje; pessoas insensíveis, que só querem estar conectadas, que já não conversam mais; o retrato da nossa assustadora sociedade. Hollywood consegue retratar isso em várias produções; outro exemplo é a animação Wall-E. E se um verdadeiro apocalipse zumbi acontecer só aqueles que estiverem preparados vão sobreviver.

  • Muito bom o texto parabéns pela tradução!

  • William Soares

    Estava conversando com o pessoal do trabalho agora na hora do almoço, antes de ler esse texto.

    Era exatamente isso que estavamos falando. Tanta facilidade para adquirir conhecimento e poucos se interessam.

    Se eu convido alguém(um familiar com quem me importo) para passar um final de semana num sítio sem energia elétrica, sou chamado de homem das cavernas.

    Hoje jovens de 15 anos nunca subiram numa árvore, não conhecem plantas comuns como erva-doce ou erva-cidreira.

    E eles também não tem interesse de aprender nada de útil.

    Infelizmente para muitos o mundo gira em torno das redes sociais, youtubers, celular e wifi.

    Como o Selco disse, hoje ninguém se prepara para viver como nossos avós e para piorar, acreditam que o governo suprirá todas as suas necessidades.

    Mais um item na preparação:

    Estar conformado, sabendo que não salvaremos a todos e que muitos dos nos entes queridos ficaram para trás.

  • Patrick Oliveira

    Eu fazendo parte dessa nova geração me sinto extremamente deslocado em relação ao comportamento. Fui criado numa cidade no interior do mato grosso q conheceu a internet recentemente e quando vim pro Paraná estudar o choque foi muito grande vendo a fraqueza psicologica dos jovens e a brutal dependência que eles tem do sistema. Uma crise seja ela qual for na minha opinião levaria quase ao extermínio dessa geração.

  • Bem interessante…
    Infelizmente faço parte deste grande peso morto, tenho conhecimentos básicos de sobrevivência. Acompanho canais e vejo técnicas de sobrevivência e as coloco em prática…
    Se uma crise chegar vou me reunir com meu amigo de escola que também tem experiência nesta área…
    Muito boa essa matéria!

  • Muito bom texto, melhor item apocalipse zumbi é a cabeça, ou seja a inteligência, saber usar tudo a sua volta a seu favor. Parabéns…

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