Cientistas soltarão um milhão de mosquitos modificados na Califórnia

Sabe aquela história de seres humanos tentando controlar a natureza? Então, cá estamos nós nesta posição novamente. Hoje vamos conversar sobre o projeto “Debug Fresno”, criado pela empresa Verily – parte da holding que também é dona da Google.
Para aqueles que ainda não sabem, hoje a Google faz parte de uma holding chamada Alphabet. Essa marca controla várias empresas do conglomerado Google, bem como muitas empresas secundárias que trabalham desde inteligência artificial até engenharia genética – que é o foco desta empresa chamada Verily.
Recentemente a Verily apresentou um projeto chamado “Debug Fresno” (Dedetizar Fresno), que tem como base um experimento com o mosquito Aedes Aegypti, que transmite várias doenças e é um conhecido antigo por nós, Brasileiros.
O experimento tem como missão “reduzir o impacto na saúde humana global por conta de mosquitos portadores de doenças”.
Para isso, a estratégia é bastante simples: Cientistas vão inserir uma bactéria chamada Wolbachia Pipientis em 20 milhões de mosquitos Aedes Aegypti machos. Então, no curso de 20 semanas esses insetos serão liberados na natureza para que eles possam se reproduzir com as fêmeas e, por conta da tal bactéria, os ovos não eclodirão e a população de mosquitos começará a cair dramaticamente.
Segundo a Verily, a bactéria Wolbachia Pipientis é completamente inofensiva para animais ou seres humanos, afetando somente os mosquitos alvo e além disso os mosquitos machos não picam, então a ação não causará problemas para seres humanos.
Este será um teste de campo e se for bem sucedido, poderá ganhar escala muito maior. Em uma postagem em seu blog a empresa disse:
“Mover nosso trabalho do laboratório para o campo não é apenas um marco importante para nossos biólogos, engenheiros e especialistas em automação, é também um passo crítico para trazer nossa visão de longo prazo mais próxima da realidade. Estudos de campo permitem que nós testemos as descobertas e tecnologias no mundo real onde há condições desafiadoras. Poderemos coletar as evidências necessárias para então ampliar o projeto.”
Se você compreende inglês, confira o vídeo do projeto:
Parece uma alternativa interessante, não acha? Eu tenho lá os meus pontos de dúvida.
Testes de campo sem controle e sem consentimento?
Eu não sou nenhum especialista, mas até onde sei, mosquitos não respeitam fronteiras. Isso quer dizer que esses mosquitos podem facilmente se espalhar por uma área muito mais ampla do que o experimento pode prever e, se os resultados não forem positivos, um simples teste pode ganhar uma escala preocupante.
Além disso, o experimento pretende soltar os insetos em Fresno, uma cidade do estado da Califórnia… Mas e o consentimento dos habitantes da região? Se eu morasse nesta cidade provavelmente não me sentiria a vontade com um teste desses sendo feito sem ninguém me perguntar se eu aprovo tal ato. Isso quebra o conceito básico de ética em estudos científicos – até onde eu sei.
Tudo parece encaminhado para o sucesso… Mas e se der errado?
Apesar de muitos os pontos estarem mostrando que o resultado não tem como causar problemas diretos a nós ou ao ecossistema, seres humanos tem um belo histórico de serem confiantes demais. Sempre existe a chance da mãe natureza nos surpreender e algo completamente inesperado entrar na equação tão “perfeita” dos cientistas!
Vamos “viajar” um pouco, apenas como exemplo:
- E se a bactéria sofrer uma mutação e infectar seres humanos?
- E se os mosquitos desenvolverem resistência a bactéria?
- E se a falta desses mosquitos afetar o funcionamento do ecossistema?
Temos muitos “E se” envolvidos para simplesmente fazer um teste aberto e sem controle eficiente para ser contido caso ele não dê certo.
E se nada acontecer?
Eu sei que sou totalmente leigo em biologia e genética, mas sou muito bom em saber que algumas vezes as coisas não saem como planejado. Contudo, tudo pode correr bem e realmente termos ganhos significativos e todo mundo fica feliz, não é? Não.
Se um teste como esses for bem sucedido ele abre portas para muitas outras ações e experimentos da mesma natureza que podem, no futuro, escorregar e causar um pandemônio de consequências que não teremos como controlar.
Eu não sou um conservacionista que acredita que “com a natureza não se brinca”, mas – leigo como sou – ainda acredito que testes devem respeitar o aumento progressivo de escala e principalmente, o consentimento de todos envolvidos na zona de atuação.
O nosso futuro parece populado de empresas de alta tecnologia fazendo testes genéticos e tecnológicos, e isso me assusta. O que você pensa sobre isso?
Até.
Não sei se é do seu conhecimento, mas um projeto parecido com esse foi feito no Brasil, iniciou-se em Recife e seria depois efetuado em outras cidades do Brasil, inclusive no interior de São Paulo, Não fiquei sabendo sobre a continuidade do projeto, mas tenho certeza de que em Recife – PE foram soltos mosquitos com alguma modificação,
Li sobre isso, no meu local de trabalho, um artigo no caderno “ciência” da Folha de São Paulo, na época eu ainda morava em Sorocaba – SP, então foi antes de 2012.
Concordo com tudo o que você escreveu, mas quero lembrar que há muitos mais “se” a serem considerados, principalmente em se tratando de transgênicos e assemelhados.
Em 2014 foi inaugurada uma fábrica de mosquitos Aedes Transgênicos (creio que em Piracicaba – SP) que pode ser conferida na reportagem abaixo, onde diz que já soltaram 55 milhões desses mosquitos no interior da Bahia:
http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2014/07/mosquito-geneticamente-modificado-pode-ajudar-no-combate-dengue.html
Nesta outra reportagem, algo que me assombrou, já estão usando mosquitos transgênicos em Fernando de Noronha, a informação está logo abaixo da foto do mosquito:
http://m.noticias.ne10.uol.com.br/saude/noticia/2016/02/16/oms-defende-testes-com-mosquitos-geneticamente-modificados-para-acabar-com-zika-597076.php
Abraços
boa reflexão, porém discordo um pouco, primeiro ponto que acredito que eles não fariam um experimento em campo sem ter feito varios experimentos fechados, segundo como o mosquito macho não pica, não tem contato com humanos, e o período de vida destes mosquitos é curto, e faz com que eles apenas não iram nascer, existem diferentes especies de mosquitos para sustentar a fauna, então não vejo um grande problema em um experimento deste tipo, desde que muito bem elaborado, e com testes em laboratório muito bem elaborados.
concordo plenamente Julio, não se sabe realmente o que um teste em grande escala pode resultar, e vou deixar uma curiosidade pra voce pesquisar, pequise sobre a doença de lyme, anos atras nos EUA houve uma epidemia, atraves de um teste laboratorial secreto onde ouve vazamento do patogeno.
Entre muitos pensamentos e questões, depois de ver o vídeo e estudar o material deles, parece que eles não levaram muito a sério a questão de polinização de plantas e muita vida que depende do equilíbrio de ecossistema desses insetos e animais que se alimentam desses insetos. Muita coisa vai mudar dando ou não dando certo. abraços
Resiliência amigo, resiliênica… a capacidade adaptativa é grande. Se nós não obtivermos carne de novilho Hereford, nos alimentamos até de insetos.
O ciclo se adapta à ação do homem, mas sempre tem um mas… se esta interferência ocorrer de forma sistemática, ou principalmente sem passar nos devidos conselhos para avaliação (pesquisa, ética, ambientais) como em caso de uma pesquisa de segurança nacional (arma biológica) haverá um maior risco.
Neste caso, esta engenharia já é utilizada há muito tempo em controle biológico de pragas. Assim o dever é investigar cada situação de forma particular, ambiente, empresas envolvidas, objetivos e organismos atingidos. Conhecendo de antemão os riscos e os ciclos destas bactérias em particular e seguir os protocolos legais de maneira diminuir os riscos de possível infecção.
O controle biológico de pragas é realizado durante muito tempo na agricultura. Bom, é difícil uma mutação desta forma no caso, infecção de humanos. Na natureza ocorrem várias mutações naturais durante milhões de anos para que um inseto ou bactéria estabeleçam uma relação parasitária, em suma uma coevolução com o hospedeiro. Trata-se de uma relação muito complexa entre o parasita e hospedeiro para ser escrita em um intervalo de tempo histórico muito pequeno. Se os mosquitos desenvolverem resistência a bactéria talvez poderão voltar a ser férteis, está resistência se dá através de vários mecanismos, pode se fazer uma analogia com os humanos. A falta desses mosquitos não irá fazer diferença diante da grandiosidade e diversidade da natureza, mas se o ser humano colocar cada vez mais espécies em extinção a natureza poderá entrar em colapso, somos um parasita da terra.